os deleites de anália

A Dona Anália é, dizem-me, boa pessoa. Vai à missa, confessa-se, persigna-se por tudo e por nada, por dá cá aquela palha, leva uma vida regrada, foi mulher de um só homem, nunca o encornou nem em pensamento. E a Dona Anália é profundamente do contra, o que só lhe fica bem segundo o marido que Deus tem. Casamento gay? É contra. Interrupção Voluntária da Gravidez? É contra. Eutanásia? É contra. Aumento do salário mínimo? É contra, ela que não tem onde cair morta e cuja pensão tem vindo a diminuir a olhos vistos, os remédios que devia tomar quedam-se pela farmácia, os vegetais que devia comer ficam no supermercado, bebe um chá que a fome passa, a dor vai-se. É que a Dona Anália não pensa só nela, não é egoísta e muito menos invejosa, sabe que um país sem ricos dos mais ricos que pode haver, apaparicados pelo Estado de forma a criarem empregos e pagarem salários, por mínimos que sejam, é um país condenado à fome e a malfeitorias comunistas, um dos horrores deste mundo de Cristo. A Dona Anália detesta o Costa, não é dele que gosta mas do Coelho, esse bom homem, bonito como uma estátua de Miguel Ângelo, a voz de Coelho fá-la vibrar por dentro e suar por fora. O doutor Coelho, que tanto se esforçou por pôr as contas do país na ordem, para virem agora os socialistas, mais uma vez, estragar tudo. Mais e melhor Educação? E o dinheiro? Mais e melhor Saúde? E o dinheiro? Menos impostos para os mais desfavorecidos? Aumento de pensões? Tomara ela, mas onde está o dinheiro? Do que o país precisa é de empreendedores que ofereçam estágios a esta juventude sem tino nem rumo, que ponham rapazes e raparigas - meu Deus, que a gente já não distingue uns das outras! - a trabuquir por uma bucha, que a Dona Anália toda a vida comeu o pão que o diabo amassou e esta gentalha está mal habituada, desordeiros que só na rua é que estão bem, ora se drogam na via pública ora se manifestam avenida fora, querem pão sem ter razão, querem este mundo e o outro, o cu e três vinténs, cavar na vinha e no bacelo. 

Se Salazar ressuscitasse e Coelho governasse é que era o bom e o benito. Um deleite para a Anália. Que é, dizem-me, boa pessoa.

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