mexia mas já não mexe
BRECHT
Por Fernanda Mestrinho
Perante tanto debate, comentário, entrevista, dei por mim com saudades: nunca mais vi ou ouvi António Mexia.
Geralmente andava rodeado de uma nuvem de jornalistas. Ex- ministro, presidente da EDP, António Mexia era o símbolo do gestor de sucesso. Ora mandava nos governos, aumentando as rendas excessivas e a factura, ora considerava os portugueses uma cambada de invejosos pelo ordenado que auferia.
Acontece que os chineses compraram a EDP e, up, António Mexia passou a funcionário de uma empresa pública chinesa. Os novos patrões não gostam de mediatismo e, além disso, gestores como António Mexia, a China deve ter que esgote os dez estádios de futebol do euro.
Imagino a dificuldade em lidar com uma cultura do sorriso indecifrável e do olhar penetrante. Primeiro ensinamento, na sua reeducação, de Confúcio: “Não te suponhas tão grande que penses ver os outros menores que tu.”
Pior que o silêncio é a carta de despedimento que alguns quadros superiores da Cimpor estão a receber.
Não eram funcionários públicos, mas tinham ainda o conforto do Estado lá dentro. Não eram reformados nem pensionistas, o desemprego não era previsível. Mas, como se lê no poema de Brecht, agora foram buscá-los a eles.
Este governo vai conseguir uma sociedade sem classes, todos pobres. Sobra a banca, até temos uns milhões de lado para que não lhes falte nada e a corrupção ainda florescente e impune. Quando se lhe aplica Brecht?
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