volta salazar, estás perdoado!
Leio no DN de hoje, com espanto, com revolta, com vergonha, que o que o governo tem na manga é acabar com as indemnizações por despedimento até 2013. Assim, sem mais nem menos. Um trabalhador com 50 anos, por exemplo, pode ir para a rua com uma mão à frente e outra atrás, sem a mínima hipótese de conseguir novo emprego e muito longe do direito de começar a receber uma reforma, por magra que seja. Como os subsídios de desemprego também vão levar uma volta, e não para melhor, que vá pedir esmola, que durma debaixo da ponte, que condene a família à indigência, mesmo depois de ter trabalhado - e contribuído com os seus impostos - para os lucros da sua empresa e os proventos do Estado.
E leio mais. Leio ainda atoardas como esta do presidente da CIP: "tudo o que são baixos custos é sempre bom para as empresas".
Puro logro. Pura estupidez. Se mais e mais pessoas deixarem de ter rendimentos, mais e mais pessoas vão deixar de consumir, logo as suas empresas, quer elas produzam ou comercializem electrodomésticos, móveis, livros, medicamentos, produtos alimentares, pentes ou automóveis, vão vender menos. A não ser que, num fenómeno económico nunca visto em lado algum, essas empresas se dediquem todas, única e exclusivamente, à exportação.
Outra bojarda ainda. Artur Rego, do CDS-PP, afirma: "tenho pena que os portugueses não assistam a este debate pois assim poderiam ter consciência do nível de demagogia a que chegam os partidos da esquerda".
Eu, que não tenho medo de ser demagogo e muito menos de ser politicamente incorrecto, respondo: os partidos de esquerda podem praticar demagogia, ai pois podem, tal como os partidos da direita a praticam e não é pouca, mas há uma coisa que, na hora H, não estão a fazer: defender os portugueses.
O que se está a passar é de extrema gravidade. Os partidos de esquerda, os sindicatos, os movimentos cívicos de esquerda, todos deveriam estar unidos em forte, claro, violento contra-ataque a estes planos destituídos de todo e qualquer sentimento de solidariedade social, destinados a criar o que mais parece vir a ser uma república das bananas, um emirato do petróleo sem petróleo, uma ditadura onde o povo não tem quaisquer direitos, só um dever: o de enriquecer cada vez mais os que mais têm.
Nem Salazar foi tão longe, e não nutro quaisquer simpatias, juro!, nem pelo defunto nem pelo defunto Estado Novo. E os partidos de esquerda, entre os quais já nem incluo o PS, vão ficar para a história como tendo contribuído para esta situação. Por falta de estratégias, por falta de projectos, por falta de acção, por falta de luta.
Na hora H, estão a provar do que (não) são capazes. Quando eram mais precisos.
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