Gestores de topo, que como se sabe ganham quase sempre mais do que os seus homólogos dos países ricos, continuam a receber as suas reformas de ex-políticos, uma gota de água no seu oceano de benesses mas das quais não abdicam. A culpa é deles? Claro, são gananciosos e amorais, nunca se fartam, nunca lhes chega. Mas a culpa é da lei também e dos governos que nunca a mudaram. Enquanto se pedem sacrifícios a milhões, esvaziando-se-lhes os bolsos até à penúria, a outros mantêm-se-lhes os privilégios, infundados, injustos, profundamente imorais. Eu trabalhei toda uma vida, 40 anos, e, desempregado, espero que me chegue a idade da reforma, que ainda vem longe (comecei a trabalhar cedo, aos 14). E eu nem sou dos casos piores, queixo-me dos políticos mas nunca da vida. Por esse país fora, há milhares, há milhões de casos piores do que o meu. Por isso eu digo, e repito até que aconteça: que venha outro Abril e desta vez sem cravos.