queres estabilidade, filho?
Queres estabilidade, filho, queres? A estabilidade do desemprego a alturas nunca vistas, não é isso, filho? E a dos desempregados sujeitos a liberdade condicional, à permanente humilhação das comparências quinzenais para mostrarem que estão vivos, que não estão a enganar o Estado, a passar-lhe a perna, a esmifrá-lo, porque essa coisa das roubalheiras é primazia e apanágio do Estado e não da vulgata, do cidadão anónimo e sem voz, aquele que, como tu filho, como tu, come e cala de cara alegre porque quem protesta ou é comunista ou mau português, anti-patriótico, um pária, um traidor. E a estabilidade propiciada aos desempregados obrigados a trabalhar de borla ou a frequentar cursilhos da treta para que, enquanto o pau vai e volta por uma côdea de pão, folguem as estatísticas douradas da propaganda governamental. Não é assim, filho? Queres estabilidade, filho, queres? A estabilidade de um emprego cada vez mais mal remunerado porque, se não aproveitares, "há mais quem ...