tempos de decadência

Por Tomás Vasques
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Vivemos um tempo acelerado de decadência de valores; um tempo em que os “senhores do dinheiro” se sobrepõem, como querem e lhes apetece, ao poder soberano do Estados e dos povos; um tempo em que o poder – um governo eleito – está subordinado à “lógica” financeira e, temerário, evoca o “interesse público” para espoliar um povo exausto e entregar os despojos do saque a essa seita que controla este “novo mundo”. Por isso, quase já não espanta quando um banqueiro, que para a sobrevivência do seu negócio precisa de usar parte do produto do saque feito aos contribuintes, se dá ao desaforo de exigir ao governo que prossiga o saque, porque a “escumalha” aguenta muito mais e ainda tem um caminho a percorrer até ficar sem salário, sem subsídio de desemprego, sem assistência social e sem casa. Mas, apesar dos tempos que vivemos, ainda causa espanto que o primeiro-ministro de um governo eleito, se recuse a condenar as declarações do dito banqueiro e que, de cócoras, sem vergonha, apenas responda que não é banqueiro, nem tem acções ou participações no banco que o dinheiro dos contribuintes recapitalizou. Na mesma linha de decadência de valores, de ética e de vergonha de quem nos governa, se insere a ida para o governo de um dos “homens” do BPN – a maior vigarice financeira de que há memória em Portugal, depois da falsificação de Alves dos Reis, em 1925. As opções deste governo, que tem como missão transformar a maioria dos portugueses em miseráveis, são claras, inequívocas. Nada disto acontece por acaso. Primeiro foi António Borges a “abrir caminho” para o corte significativo dos salários; agora é o banqueiro Fernando Ulrich a anunciar o futuro da maioria dos portugueses: gente sem eira, nem beira, humilhada e sem abrigo, enquanto a “cúpula” da grande fraude chamada BPN chega ao governo.

As consequências das opções deste governo estão à vista, apesar da momentânea euforia pelo “regresso aos mercados” e outros “êxitos” inscritos nas folhas de cálculo do ministro das Finanças. No entanto, a realidade mostra que a economia definha e o desemprego dispara, inevitavelmente. A taxa de desemprego no final de 2012 – 16,5% - já é superior às melhores previsões do governo para o final de 2013. E as consequências da aplicação do orçamento de “guerra” para este ano ainda não começaram a produzir os seus efeitos a que soma, mais cedo ou mais tarde, o corte de 4 mil milhões de euros nas despesas do Estado. Até ao final deste ano, é de prever o pior.

O tempo que vivemos exige do maior partido da oposição mais do que aquilo que, neste ano e meio, tem mostrado ser capaz de dar; exige alternativa ideológica e política à degradação em curso. O tempo que corre exige ousadias, rupturas e clarificação política. Não basta esperar que o poder lhe caia nas mãos, como fruto maduro. No fundo, exige tudo aquilo que não aconteceu na reunião da comissão política do PS, na semana passada, depois dos deputados Silva Pereira e Vieira da Silva terem tirado a cavilha da granada, e a enviarem para as mãos de António Costa. O actual secretário- geral do PS fez o que era seu dever fazer: não se atemorizou, o que surpreendeu os seus adversários internos, e disse muito claramente: querem um congresso imediatamente, vamos a ele o mais rapidamente possível.

O maior partido da oposição precisa mais de clarificar as suas opções programáticas alternativas às do actual governo do que discutir sobre personalidades e egos. Até 10 de Fevereiro, dia da reunião da comissão nacional que irá decidir sobre a data do congresso e das eleições internas, caso António Costa não encontre divergências políticas que sustentem a sua candidatura a secretário-geral do PS, ao menos que José Lello, Vieira da Silva, Jorge Lacão, Silva Pereira ou Augusto Santos Siva se disponibilizem para avançar com a candidatura ao cargo. Neste momento, o pior que pode acontecer ao PS é navegar nas meias-tintas. A questão não tem a ver com personalidades, tem a ver com a sobrevivência do regime e da democracia. Ninguém aguenta mais enganos.

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