choremos pelos contribuintes do norte da europa

Too Big to Jail
Por Daniel Oliveira
http://arrastao.org/

O Banco Central Europeu aumentou os seus lucros no ano passado. O lucro do BCE terá aumentado, em apenas um ano, 37%. Segundo o próprio e o "Wall Street Journal", isso deveu-se, em parte, ao resgate à Grécia. O seu excedente, por exemplo, que em 2011 já fora de 1,894 milhões de euros, passou, em 2012, para 2,164 milhões de euros .

Mas o BCE está longe de ser o único beneficiário público da desgraça das economias do sul da Europa. Recentemente, o governo da Holanda fez saber que, "no total, o Banco da Holanda irá lucrar 3,2 mil milhões no período 2013-2017 com a participação em operações relacionadas com a crise ". O Estado holandês, através de engenharia financeira, assumiu uma garantia de 5,7 mil milhões ao Banco da Holanda . Em contrapartida, o banco transferiu para o Estado os lucros resultantes das suas operações de ajuda a Estados e bancos. Esse dinheiro permitiu que o nacionalização do SNS Reaal (que se arruinou com operações imobiliárias em 2006, apostando em ativos tóxicos em Espanha) e o cumprimento das metas do défice. Vale a pena recordar que Jeroen Dijsselbloem, ministro das Finanças holandês, é presidente do Eurogrupo. E ele mesmo assumiu que, apesar dos riscos destas operações de ajuda às economias em aflição, a Holanda terá "ganhos substanciais".

Sabe-se também que, graças a turbulência na generalidade das economias europeias, a Alemanha, dos poucos portos seguros que restam para quem queira guardar o seu dinheiro - e nunca houve tanto dinheiro para guardar -, tem conseguido financiar-se sem custos ou mesmo com juros negativos.

Sempre que ouço os comentadores domésticos verterem lágrimas pelos contribuintes do norte da Europa, vítimas da irresponsabilidade grega, portuguesa e italiana, não consigo deixar de sorrir. Pelo contrário, enquanto a crise económica não chegar a sério a estes países, a situação aflitiva dos países do Sul e os resgates que têm sido obrigados a aceitar - e que têm tido como únicas consequências o agudizar das suas crises e aumento das suas dívidas -, têm sido excelentes notícia para os contribuintes do norte da Europa obrigados, como nós, a pagar as irresponsabilidades dos banqueiros.

Não, Alemanha, Holanda e outras economias europeias não estão a financiar a dívida dos países do Sul. Pelo contrário, as dívidas dos países do sul é que estão a financiar estes Estados. Os contribuintes dos países intervencionados têm pago a relativa estabilidade financeira dos países que financiam os resgates.

Dirão que as coisas são assim mesmo e que só nós somos responsáveis pela nossa situação. Não é bem assim, mas guardo esse debate para a próxima semana, mostrando aqui como a moeda única acentuou os desequilíbrios estruturais já existentes na Europa. Mas mesmo que isso fosse verdade, seria talvez altura de abandonar tanta gratidão para com os nossos credores, sobretudo pelos pobres contribuintes alemães e holandeses. Às vezes, e sobretudo na finança e na política, um pouco de cinismo não é mau conselheiro.

Imagem: http://www.rollingstone.com

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