ratos de tele-sacristia
Por Luís Rainha
"O Santuário de Fátima, um lugar de graça, de consolação, onde o sentir humano mostra a grandeza de Deus." Quem ontem esta linda oração proferiu não foi um acólito da coisa, mas sim uma jornalista da RTP. Não basta explicar que fazia calor, que lá estavam x mil pessoas e que foi dito isto ou aquilo; agora o "serviço público" também serve de púlpito para declamar baboseiras sem nexo - esqueçam a isenção, a inteligência e até o desiderato de escrever em português que se entenda.
Como o calor dilata os neurónios, tornando-os mais permeáveis, fixei outros pontos da "reportagem": veio um senhor mascarado do Luxemburgo a perseguir os nossos emigrantes, deixando-os com o sério aviso: "Não percais a vossa alma na migração." Como se ela fosse assim uma peça de bagagem, um avô ou um animal de estimação, destinado a ser esquecido na primeira estação de serviço. Depois, o aviso de que a estátua da Virgem vai emigrar até Roma, para que o mundo seja consagrado a um tal "imaculado coração de Maria" - julgava eu que Pio XII já tinha tratado disso, há mais de 70 anos; e que a "vidente" Lúcia até tinha reclamado na altura, insistindo que o que a Senhora tinha pedido fora mesmo a consagração da Rússia.
E estranho que tantos salamaleques aos nossos amigos imaginários não bastem para esconjurar as pragas que nos afligem: revoadas de mosquitos em Armação de Pêra, os gafanhotos do governo, poias flutuantes em Quarteira, produção industrial em queda, incêndios, Cavaco Silva...
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