Ontem, todos os canais portugueses, os generalistas e os de informação, estiveram praticamente o dia inteiro a acompanhar as cerimónias fúnebres de Eusébio. Abutres à volta da carniça que dá audiências. Horas e horas de momentos de televisão em que nada acontece e, como os repórteres nada têm para relatar, palram. Palram demais. Do rei. Do king. Do maior jogador de todos os tempos. Eusébio é Portugal e Portugal é Eusébio. O jogador global etc. e tal. Frases bacocas, frases tolas, frases redundantes, frases pomposas, num português titubeante e tantas vezes medíocre.
Eusébio merecia melhor. E nós também. Os telejornais imitam os piores tablóides. O resto da programação limita-se às telenovelas, enlatados, música pimba e reality shows a rondar a abjecção. Os apresentadores e enternainers são fabricados em proveta e escrevem livros, muitos livros escrevem eles, best sellers da moda que se vendem no supermercado a preços sensacionais, como se fossem vinho ou iogurtes ou tremoços ou pedaços de toucinho. Para os talk shows da RTP, convidam-se as "celebridades" da RTP. Para os outros canais, as "celebridades" desses canais. A informação é tendenciosa, os comentadores, quase todos, alinhados pelo poder da alternância, o humor inteligente relegado para as horas de dormir. Jornalistas, escritores, artistas, políticos incómodos são personae non gratae. Estupidifica-se um povo para que, contentinho da silva, chafurde na sua alegre tristeza. Regredimos. E não só economicamente.
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