escrito na pedra
Marcos Sobral/http://lisboameninadourada.blogspot.pt/ |
Coelho sacrifica-se. Lá carrega, há quase três dolorosos anos, esta grossa cruz de governar o ingovernável. Ulrich sacrifica-se. Perdeu parte do grosso salário que, ainda assim, continua grosso. Montenegro sacrifica-se. Continua a falar, imundo e grosso, do alto da sua maioria parlamentar. Soares dos Santos sacrifica-se. Compra por grosso e distribui com grossos lucros, tem o azar de ser um dos mais ricos de Portugal. Mexia sacrifica-se. Passou a prestar contas, por grosso, aos picuinhas da China. Albuquerque sacrifica-se. É preciso baixar o grosso défice, custe o que custar. Crato sacrifica-se. Para que o grosso da estudantada não passe da cepa torta e os docentes passem a indecentes. Portas sacrifica-se. É vice contrafeito depois de, com voz grossa, se ter declarado irrevogável durante a silly season. Se o grosso da elite pátria se sacrifica, por que raio é que os portugueses não se haviam de sacrificar? O grosso da populaça é grosseira, piegas e madraça. Se está desempregada, é porque não é empreendedora. Se é funcionária pública, é porque se encostou à sombra do Estado-Bananeira. Se é idosa, é porque não se deixou morrer na devida altura. Se é doente, é porque leva uma vida de maus hábitos. Se ficou pobre, é porque andou a viver acima das possibilidades. Se se revolta, é anti-democrata. Se se manifesta, não respeita as instituições. Se não paga ao fisco ou à Segurança Social, é fora-da-lei. Sacrifique-se o povoléu por quem tanto se sacrifica por ele. Um coliseu a rebentar pelas costuras mostrou, ao País, que outro País é possível. A revolução está a passar por aqui. O homem novo, qual fénix, renascerá das cinzas. À terra queimada, seguir-se-á um oásis de relvas onde os coelhos se propagarão. As exportações, de produtos e de portugueses, serão a nossa salvação. Merkel, a nossa soberana. O dinheiro, o nosso Deus. A frugalidade, o nosso cilício em prol da nova corte divina. Cruzes e Cristas estão entre os apóstolos do novo Cristo, Aquele que desceu à Terra para nos salvar do pecado da abundância, do progresso, da felicidade. Ajoelhemo-nos aos Seus pés. Peçamos-Lhe perdão pelo nosso maior pecado. O de viver.
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