estamos tramados, é o que vos digo
Digam-me cá: se o PS de Mário Soares foi capaz de encher a Alameda para combater a esquerda amalandrada (com a ajuda da direita agradecida, claro), por que raios e coriscos é que o PS de Seguro não consegue encher uma tendinha de circo para ajudar a rechaçar a direita canalha?
Eu respondo: porque o PS, salvo raras e honrosas excepções, é composto por gente com os mesmos mesquinhos interesses da maltosa do outro lado da barricada. O mundo dos negócios, da alta-finança, da distribuição de tachos em dia de bodo aos pobres, os de espírito e de moral. O outro mundo, o da Equidade, da Solidariedade, do Estado Social, pouco ou nada lhes diz, surte efeito nos discursos da praxe, os de atrair papalvo.
E a outra esquerda, a verdadeira? Essa, num momento tão grave como o que atravessamos, uma contra-revolução de extrema-direita (chamemos os bois pelos nomes), é incapaz de se entender e de entender que as suas quintarolas e pergaminhos valem muito menos do que os direitos, a saúde, a educação, o trabalho, a dignidade de quem dizem querer defender. Mas querer, só, não basta. Querer não é poder.
São incapazes de desmentir, por palavras e actos, um dos venenos preferidos da direita: que não querem governar, que se limitam a ser meros partidos de protesto. São incapazes de juntar na rua, de uma só vez e de uma vez por todas, todas as gerações e facções indignadas e fartas de sabujos, salafrários e doutorados em roubalheira. Uns, esperam salvar-se do definhamento anunciado. Outros, contabilizam intenções de voto, à espera da lotaria que, de mão beijada, os poderá bafejar nas próximas eleições. Eu cá, para dar o exemplo (mas quem quer saber do meu exemplo?) vou a todas as manifestações convocadas seja por quem for, desde que seja por uma causa maior: o derrube deste desgoverno que nos coube em má sorte. Não me tem servido de muito mas vou, como dizia o outro de triste e má memória, andar por aí. Sou e serei pela unidade das esquerdas contra o descalabro para onde nos estão a levar, um retrocesso de décadas e um futuro terrível, que gostaria de poupar aos que, sangue do meu sangue, me irão suceder neste cada vez mais pardacento vale de lágrimas, qualquer dia ainda mais sangrento, qualquer dia exangue.
Ah!, e irei votar. Sempre. Porque, não votar, é dar a vitória, continuadamente, alternadamente, às várias direitas do insidioso "arco da governação". Para fazer mais do mesmo, friamente como Passos ou com lágrimas de crocodilo mariquinhas, como Seguro. Se lá chegar. Ao dia de tomada de posse, diante de Cavaco e de um país escavacado.
Estamos tramados, só vos digo.
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