no tempo da banha-da-cobra
Do primeiro-ministro ao presidente da República, dos minisros aos secretários de Estado, não há quase nenhuma sumidade que não encontre pretexto para se vangloriar na TV, a todo o instante, na mais descarada das campanhas eleitorais, com excepção da última onde Coelho prometeu mundos e fundos para, depois, nos ir aos fundos como lobo esfaimado por carniça. Oh que perfeito que o governo tem sido, oh que estamos num país de sonhos húmidos, oh que a economia anda mesmo baril, fixe, bué, bacana, oh a Saúde, a Educação, a Justiça que nunca funcionaram tão bem, oh os malvados dos socialistas que, se ganharem as eleições, vão deitar tudo a perder, e tantos foram os sacrifícios que os portugueses fizeram de livre e espontânea vontade, desde que Coelho foi eleito que é vê-los a fazer fila de pirilau à porta do primeiro-ministro para oferecer os seus préstimos, os seus haveres, o seu emprego, oh tanta propaganda, tanta encenação, tanta verdade assassinada à facada, à martelada, à catanada, à canzana!
O governo não governa, declama textos promocionais escritos por assessores pagos à linha e à peta. E ainda faltam as inaugurações e as arruadas de fiéis militantes, procissões dos tratantes. Ainda falta trazer a prisão de Sócrates à colação, impoluto só há um, o Coelho e mais nenhum. Ainda faltam umas migalhas para arremessar aos pobrezinhos e aos remediados com promessas de maiores aumentos e outros tantos proventos, o cofre está aberto para quem dele se quiser servir.
O governo não governa, reúne com publicitários, desenvolve estratégias de marketing, redige panfletos, estuda slogans, convoca agências de comunicação, ouve conselheiros para mais ardilosamente preparar as próximas arremetidas à nossa inteligência.
O governo não governa. E ainda bem.
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