falar para o boneco


O manequim da Rua dos Fanqueiros, alcandorado por obra e graça de uns quantos a alfaiate cá da terrinha, está como quer, como sempre quis, alapado numa modorra podricalha na sua montra de luxo com sede em Belém e delegação a São Bento, um paraíso onde os trastes não se ficam pelos adelos circundantes. Porque houve troca recente de manequins, vai sofrer agora menos alfinetadas, usufruir de amistosa companhia nos encontros de costureirinhas às quintas-feiras. O novel modelo, que de virtudes não será, começou por fazer carreira na defunta Casa Africana. Ao contrário do peralvilho em boa hora enxotado da montra por indecente e má figura, não se veste em costureiros italianos nem franceses mas antes prefere as confecções Maconde. Só lhe ficam bem esses gostos patrióticos, a condizer com os trapicalhos expostos Fanqueiros fora, e o seu chefe, manequim-mor de fancaria, pode agora falar com o boneco. Para o boneco. Eles lá sabem as linhas com que se cosem. Quanto a nós, cá estaremos para ver onde param as modas nesta feira de vaidades em que se transformou Portugal. Pelo sim, pelo não, digo eu para os meus botões, vou mandar virar a casaca. A crise assim o exige. Ou não estivéssemos, entre cortes e tangas, fartos de andar de tanga.

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