o fim da investigação: garantir décadas de pobreza


Por Daniel Oliveira

Segundo notícias recentes, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa vai suspender, a partir de Outubro, o pagamento das bolsas e contratos de trabalho associado aos projetos de investigação em curso na faculdade. Ou seja, deixará de fazer investigação. A razão é simples: a dívida da FCT para com a faculdade é superior a 2 milhões de euros (há dívidas semelhantes a outras instituições universitárias). E aqui está mais um efeito dos cortes nas "gorduras do Estado".
Claro que os ideólogos do Estado mínimo, que nos governam e que dominam o discurso mediático e económico, continuarão a maldizer o investimento público e santificar a iniciativa privada. Acontece que, como se sabe, em Portugal, é o Estado, e não as empresas, que garante a quase totalidade do investimento em investigação e desenvolvimento. E sem esse investimento não haverá empresas competitivas. E sem empresas competitivas não temos qualquer futuro.

Portugal porta-se como aqueles pais que, perante as dificuldades, a primeira coisa que decidem fazer é tirar os filhos da escola e pô-los a trabalhar, garantido a perpetuação da sua própria pobreza.

Não teremos de esperar muito para termos finalmente de volta da Academia pela qual uma certa elite horrorizada com a democratização do ensino tanto andou a suspirar: cheia de "tradição" e "lentes", que não investigava nada, não inovava nada, não existia para além de Badajoz e servia apenas para filhos de doutores receberem o canudo como se recebe uma herança.

Nos últimos trinta anos a nossa Universidade deu um salto extraordinário. Passou, na realidade, a existir. E foi ela, e raramente os empresários que se comportam como oráculos da Nação, que modernizou muitos sectores da nossa economia. Infelizmente, foi mais uma vez a mediocridade que levou a melhor. A conversa sobre um "país de doutores" que não existe, sobre "os cursos que não servem para nada" e sobre a suposta ignorância da "geração rasca", que é, por acaso, a mais bem preparada da nossa história, impôs-se como senso comum. Uma elite económica que sempre apostou no trabalho desqualificado e uma elite política que sempre desprezou a inteligência deitaram para o lixo décadas de investimento. Nada de novo. Mas não deixa de ser extraordinário o esforço que estamos a fazer para nos enfiarmos num buraco sem fundo. E o desprezo que temos por tudo o que de bom fizemos nos últimos trinta anos.

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