o banksy português
Por Gustavo Sampaio
http://www.sabado.pt (texto e imagens)
Quando começou a pintar graffiti em paredes e comboios, aos 10 anos, na terra onde nasceu, o Seixal, Alexandre Farto – conhecido por Vhils, a assinatura (tag) que adoptou desde então – não imaginava que hoje, cerca de 14 anos mais tarde, seria convidado a expor criações suas em galerias importantes de Londres, Xangai ou Paris.
“Desenvolvi um conhecimento muito próximo das zonas marginais e dos não lugares das cidades, cresci com essa visão do outro lado do meio urbano”, salienta, ao recordar os tempos em que tinha de fugir da polícia com latas de spray nos bolsos.
Mas como é que aconteceu uma ascensão destas, tão rápida, até à consagração artística internacional? A explicação de Vhils à SÁBADO: “Senti-me impelido a experimentar com outros materiais e técnicas que me permitissem passar de uma comunicação em círculo fechado, como é o graffito, para uma que alcançasse um público mais abrangente.”
Houve uma mudança técnica fundamental: libertou-se da linguagem convencional do graffito e passou a utilizar o stencil para criar imagens mais figurativas e directas, através da sobreposição de camadas contrastadas.
“Fui observando que as paredes das cidades comportavam uma série de resquícios acumulados que permitiam fazer uma espécie de leitura histórica da passagem do tempo, sobretudo evidente no acumular de cartazes publicitários, como é prática em Portugal.”
Daí chegou à ideia de inverter o conceito do stencil: em vez de sobrepor, dedicou-se a remover camadas.
Mas não se limitou a trabalhar sobre as camadas sobrepostas de cartazes publicitários – que diz engrossarem as paredes em cerca de 20 centímetros. Um dia experimentou escavar na própria estrutura das paredes, com martelos pneumáticos e martelos normais. Primeiro desenha na parede, com spray, a figura que pretende esculpir. Depois utiliza cinzel e martelos (por vezes já usou explosivos) e, para os acabamentos, aplica lixívia e outros produtos de limpeza, ácidos corrosivos ou borra de café, que se tornou a sua técnica mais recorrente.
Em paredes degradadas ou fachadas de edifícios devolutos, de Lisboa a Moscovo ou Bogotá, esculpe sobretudo rostos anónimos. Há trabalhos mais pequenos que demoram várias horas, três a quatro, e outros maiores que se estendem por dois a três dias.
Estes rostos começaram a chamar a atenção não só dos transeuntes mas de artistas, galeristas e dos media internacionais. Alexandre Farto apareceu na capa do jornal britânico The Times em Maio de 2008, depois de participar no Cans Festival, organizado pelo consagrado Banksy – o expoente mundial da street art contemporânea.
“Ele – reconhece Farto – influenciou-me em termos de postura e conceito de actuação no espaço público, mas não em termos de estilo e linguagem visual.” A BBC descreveu-o logo como “o Banksy português”; o The Telegraph” optou pelo trocadilho “Andy Wall-hole” (referência a Andy Warhol).
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