o cabo das tormentas
Por Viriato Soromenho-Marques
É compreensível a satisfação decorrente do crescimento ocorrido, no segundo trimestre, na Zona Euro (0,3%), e em Portugal (1,1%). O que não é aceitável é o apelo a uma espécie de terapia psicológica do otimismo, pois isso afasta-nos a todos, cidadãos e atores políticos, daquilo que é essencial: conceber, consensualizar e implementar estratégias que permitam não um crescimento qualquer (as "bolhas" são um exemplo de um crescimento que serve poucos durante um curto período) mas sim um verdadeiro desenvolvimento sustentável, respeitando os direitos das pessoas e os limites ambientais, um desenvolvimento que não devore o futuro. Infelizmente, o que temos visto em matéria de propostas económicas avulsas, por parte dos governos tutelados pela troika, é uma cosmética sem rasgo. E a prova da profunda patologia que nos atinge reside num indicador que não para de crescer: o do desemprego jovem (população ativa dos 15 aos 24 anos). Na Grécia já afeta 64,9%. Em Espanha, 56%. Em Portugal, os valores escalaram nos dois anos de "ajustamento" (entre junho de 2011 e junho de 2013), de 24,7% para 41%. Em toda a OCDE existem 26 milhões de jovens NEET (que não têm emprego nem nenhuma atividade de educação ou formação). Paradoxalmente, nunca estes países possuíram uma juventude com níveis tão elevados de literacia. A criação de uma "geração perdida" é a maior confissão de que o atual modelo económico e político perdeu a ligação ao futuro. E nunca como hoje, Portugal, a Europa e o mundo precisaram tanto desse contributo inovador, que só os jovens estão habilitados a dar. Resta às políticas públicas darem rosto à esperança necessária. Ou prepararem-se para absorver as ondas de choque de uma revolta inevitável.
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