os miúdos já pedem pelos pais


Por Baptista-Bastos
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Alguém tem de pôr mão nesta desgraça que nos assola e tende a destroçar o País. Não é o dr. Cavaco que nos salva. Ele já provou, à puridade, ser cúmplice da ideologia do empobrecimento, expressão outra do capitalismo mais selvagem e predador que se encobre na capa do neoliberalismo. Quase na mesma ocasião em que o dr. Cavaco elogiava, no estrangeiro, as admiráveis qualidades do "milagre" português, cuja mentirosa vacuidade corresponde ao espírito da época - quase na mesma ocasião, três dezenas de enfermeiros abandonavam a pátria, que os não desejava, para procurar a felicidade do trabalho no Reino Unido. Iam juntar-se aos mais de duzentos, que já lá estão, e em outros países, na urgência e na necessidade de aplicar as suas qualificações, indesejadas em Portugal, por um Governo que começa a ter a designação de "celerado". Não devemos temer o uso das palavras, quando estas são prostituídas pelo embuste e pela pouca-vergonha. Celerado - é essa mesma a classificação adequada à prática do Executivo de Passos Coelho e os seus.

Ninguém escapa aos malefícios de uma experiência governativa da pior usada pelo capitalismo. Deixou de haver "política", substituída pela "gestão", e pela ordem de prioridades. Economistas e contabilistas (como o próprio Passos Coelho) corporizam essa "ascensão da insuficiência" de que falou Cornelius Castoriadis. Até a ministra Maria Luís adoptou a nova fraseologia governamental, não hesitando em perfilhar a nomenclatura da aldrabice, ao dizer que "estamos melhor do que há dois anos."

Diariamente, a toda a hora e a todo o instante, as notícias do desaforo moral, económico, político e social chegam até nós, com a banalidade do inevitável. As famílias destroçadas; o País exangue pela sangria da sua juventude, melancólico e trágico pela exclusão dos velhos, dos doentes, dos desempregados, toda esta soma de horrores não sensibiliza os senhores do mando. A lista dos suicídios aumenta; o número de portugueses que procura nos fármacos suavizar as dores e o sofrimento é perturbador; e ainda há quem, despudoradamente, como o dr. Cavaco, sustente este infortúnio.

Soube-se, agora, que o caudal de miséria engrossa com o desespero e a angústia de miúdos, que telefonam para o SOS da Criança, pedindo ajuda porque os pais estão desempregados. Miúdos! Aonde é que isto vai parar? Estes senhores do mando julgam-se legitimados pelo voto; porém, o voto não torna lícito tripudiar sobre os mais sagrados valores da democracia e da vida. Isto com a complacência de um Presidente da República que, em consciência, o não é, pois favorece, notoriamente, uma facção política em detrimento do geral, e uma ideologia que despreza os princípios do humano. Portugal está um sufoco.

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