um amor de criatura







Rebelo de Sousa defende uma campanha de afectos por parte do PSD. Parece que já os estou a ver, Coelho a beijar velhinhas a quem roubou nas pensões, Luís Albuquerque em alegre cavaqueira com espoliados do BES e do Fisco, Crato rodeado de fedelhos a quem comprometeu estudos e futuro, Paulo Macedo a confraternizar com doentes e familiares de doentes entretanto mortos, Montenegro a rebolar-se nas marchas de Lisboa, Marco António a recitar Shakespeare, Pedro Pinto a oferecer copos de três de tasca em tasca, Esteves de sorriso inconseguido num rito frustracional em perspectiva aristotélica, Leal Coelho a oferecer aventais de plástico, sacos de plástico, pentes de plástico, manguitos de plástico, todos, todos com a sigla do PSD, Machete a distribuir salvo-condutos de emigrante para jovens desesperados. Vamos ter meiguices, mimalhices, pieguices, fosquices, mariquices até às eleições. Vai ser uma festa, na testa, nos costados, no alto do cocuruto. Escolha o seu candidato impoluto, mande-lhe um poema, uma missiva de amor, um coração de papel, um boião de marmelada e mel. Ou merda. Vá na cantiga, em cantos de vígaros, em contos de vigários. Vai ser correspondido. Vai ver como elas lhe mordem. Vai receber promessas, garantias, juras. Duas. Três. Muitas. Quantas mais melhor. Não. Os impostos não são para subir. Não. Os salários não são para descer. Não. Os feriados não são para cortar. Não. Os funcionários públicos não são para despedir. Não. Os subsídios de férias, de Natal, de desemprego, de inserção, de doença, de maternidade não são para abolir ou reduzir. Não, não e não. Com voz de barítono, de tenor, de contralto, de soprano, de falsete, chamar-lhe-ão companheiro, compincha, mano, tudo muito mano a mano, tu cá tu lá, todos eles porreiraços, amigalhaços, espertalhaços, palhaços de um circo de urnas e de mortos. Urnas de votos dos devotos. Urnas dos mortos. De fome, de mágoa, de pobreza. De indignação, de ódio, de tristeza. Mas serão sempre os votos dos devotos que contarão. E eles são tantos. E eles são tansos. Tão mansos. Acolhendo chochos, ilusões, mentiras. Dormindo com o inimigo. E mais não digo.

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