a crise e o dominó europeu
por Daniel Oliveira
Expresso online
Enquanto o debate político português continua centrado no seu próprio autismo - dedicado à autoflagelação e ignorando a crise europeia -, estão a acontecer coisas interessantes. Duas, por agora: a lenta agonia espanhola e a ameaça de reestruturação da dívida grega. Basta que a última aconteça para a queda de Espanha ser uma questão de dias. E depois dela, o contágio a Itália e à Bélgica.
Este efeito dominó acabará por criar uma situação financeira, mas também política, absolutamente nova. Com a queda de dois grandes a Europa será mesmo obrigada a reagir. O egoísmo alemão terá de fazer uma escolha: ou muda de rumo ou prepara a morte do euro e da União Europeia. E a segunda escolha terá um preço de tal forma arrasador para os alemães - sempre foram os que mais ganharam com a moeda única - que nem é sequer uma alternativa para quem não queira ficar na história como o chanceler que matou a economia alemã.
Se este cenário se confirmar - e cada vez mais sinais apontam para aí -, os seus efeitos dependerão da rapidez de uma reação europeia. Se for, como tem sido, a passo de caracol, estamos todos tramados. O barco vai ao fundo e ninguém se salva. Se for, por pressão dos gigantes em queda, rápida, talvez haja futuro para a Europa. E talvez haja futuro para Portugal.
Triste situação é esta, em que a nossa sobrevivência depende da desgraça alheia. Triste Europa é esta, que só acordará no dia do Apocalipse. Tristes líderes políticos são estes, tão dependentes dos poderes financeiros que só pensarão no futuro quando a tragédia lhes bater à porta.
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