vamos lá então falar de pedofilia a sério



UM PARQUE DE PEDÓFILOS

Por Carlos Tomás

O PARQUE EDUARDO VII CONTINUA, HOJE COMO ONTEM, A SER PALCO DE ENGATES DE MENORES. JORGE SAMPAIO, REFERENCIADO POR PEDOFILIA NUMA CARTA ANÓNIMA QUE CONSTA DO PROCESSO CASA PIA FOI AVISADO EM 1995. TODA A GENTE ASSOBIA PARA O LADO...

“Ganho 400 euros por dia e ofereço roupas à minha querida de 200 euros. Em que emprego é que ganhava isto?”. A pergunta é feita por José Carlos. Tem actualmente 19 anos e desde os 12 que assegura frequentar o Parque Eduardo VII, em Lisboa. Entre a lista de clientes conta que tem magistrados – judiciais e do Ministério Público -, políticos, jornalistas, actores, governantes e simples anónimos.
Conta... mas não tem nada que sustente as suas afirmações. Clientes, esses, no entanto, não faltam. Apesar de terem passado quase nove anos sobre as denúncias de pedofilia na Casa Pia de Lisboa feitas pela então jornalista do Expresso Felícia Cabrita, o NOTÍCIAS SEM CENSURA foi ao Parque Eduardo VII e testemunhou a procura pela carne. Carros de baixa, média e alta cilindrada continuam a percorrer a Avenida Sidónio Pais, paredes meias com o Pavilhão Carlos Lopes, em pleno coração da capital, em busca, os condutores, está bom de ler, dos encantos masculinos de quem sente necessidade – ou até vontade - de vender o corpo. Nesta zona, apenas masculina, que as meninas, por ali, não são bem recebidas.

A elas, está reservada a zona da Artilharia Um. Nada de mais. Não fosse dar-se a simples coincidência de ali viver o ex-presidente da República Portuguesa, Jorge Sampaio, que em 1995, enquanto líder da Câmara Municipal de Lisboa, foi alertado, por cidadãos da Avenida Sidónio Pais, para o drama da pedofilia e da prostituição masculina que se vivia no Parque Eduardo VII.

Este é, no entanto, o meu relato de várias madrugadas passadas no centro de Lisboa nos últimos dois meses. Onde a Polícia raramente aparece e o crime prolifera. Onde a degradação humana atinge patamares que escapam aos olhos da maioria dos portugueses que, no entanto, engolem as inúmeras patranhas que televisões e jornais lhes enfiaram na cabeça sobre a FALSA REDE de pedofilia na Casa Pia de Lisboa, quando o mal está ali mesmo. À vista de todos. No centro da capital.

“Dói muito ver como passados que estão mais de oito anos sobre o rebentar do escândalo de pedofilia na Casa Pia de Lisboa a vergonha passou e tudo voltou ao mesmo”, desabafa Joana Filipa (nome fictício, porque o medo impera junto dos moradores das zonas adjacentes ao Parque), uma advogada que trabalha e reside na Avenida Sidónio Pais.

“Vá ali à Estufa Fria e logo vê o que encontra”, desafia António, um rapaz de apenas 14 anos, morador na Rua Latino Coelho, a escassos 500 metros do Parque Eduardo VII, local onde gostava de fazer exercício, mas que evita "para não ser abordado por esses gajos que circulam aqui em grandes bombas". A última vez que passeou no Parque, em Novembro de 2004, jamais será esquecida por António: "Eram 17h00 e vi um amontoado de pessoas. Aproximei-me para ver o que se passava e deparei-me com um cadáver. O corpo estava semienterrado. Fiquei aterrorizado." A PJ descobriu, meses mais tarde, que a morte em causa estava relacionada com assuntos homossexuais. A homossexualidade não é crime. Mas que um cadáver assusta...
Agosto de de 2011 nada mudou. O corrupio de carros não pára. Os rapazes esperam junto a postes de electricidade e até mesmo junto ao posto de pagamento que a Empresa Municipal de Estacionamento de Lisboa (EMEL) tem à entrada do Pavilhão Carlos Lopes. Mais em baixo, na estação do Metropolitano do Parque, rapazes e raparigas também aguardam por clientes. 

Os clientes, diga-se em abono da verdade, não tardam. Antes das 20 horas aparecem os primeiros. Não são tímidos. Param os carros, falam com os jovens, convidam-nos a entrar e, em segundos, esfumam-se...
Lá para as 23 horas aparecem os “batidos”. É assim que são conhecidos pelos próprios rapazes. “Eles dão várias voltas pelo Parque e só quando encontram a carne que querem é que abordam a pessoa. Costumam ser tipos com mais de quarenta anos, montados em grandes bombas e dizem-nos que são juízes, apresentadores de televisão, actores ou jornalistas. A malta não acredita. Mas também não sabe se estão a mentir”, desaba José Carlos, mostrando a camisola da Pierre Cardin que acabara de comprar às custas de “um pacóvio que levou uma banhada”. 

Os “meninos” do Parque são especialistas em “banhadas”. Uma banhada consiste em não satisfazer a vontade sexual do cliente e, está bom de ver, roubá-lo. Fazem-no em grupo. Há um chefe que controla um grupo de rapazes. Um deles consegue arranjar um cliente. Combinam o local onde as práticas sexuais serão praticadas. Por mensagem de telemóvel esse local é comunicado aos restantes membros do grupo e o cliente é despojado de todos os seus haveres.

Poucos são os que se queixam às autoridades, porque isso seria o reconhecer, na maioria dos casos, da respectiva homossexualidade e da preferência por menores que muitos demonstram. A estes grupos a PSP, a PJ e os próprios clientes do Parque convencionaram denominar por “arrebentas”. Alguns daqueles estão actualmente a cumprir penas privativas de liberdade no Estabelecimento Prisional de Lisboa, mas mantêm a influência no Parque. São visitados pelos membros do “gangue”, dão ordens e continuam a ter comissão sobre os rendimentos.

António é um menor que frequenta o Parque à procura de um "9900". O "9900", sabe-se após uns minutos de conversa, é um "BlackBerry" modelo de telemóvel preferido pelos rapazes que frequentam o Parque e o termo significa uma facturação diária de pelo menos 400 euros. Seropositivo, diz-nos que a mãe é madeirense e está em França. Do pai não tem qualquer referência. Confrontado com a possibilidade de estar internado numa instituição, opta por não responder.

Pouco mais de 50 euros serviram para o convencer a ir a um bar nas docas de Alcântara. Uma amena conversa abriu-lhe o espírito. As confissões surgiram: “Sou prostituto no Parque desde os nove anos. Os meus pais são separados, viviam numa barraca do Bairro 6 de Maio (Amadora) e nunca havia nota para nada. Aqui consigo cacau para ter roupas das marcas que quiser. Essa cena da Casa Pia, segundo oiço os mais velhos contar, estragou o negócio durante alguns meses, mas depois voltou tudo à normalidade. De vez em quando os bófias ainda me abordam, mas eu digo que estou a passear e deixam-me em paz.”

Para Luís – diz que tem 16 anos, mas não aparenta mais de 14 –, há muito que o Parque deixou de ter segredos. Conhece todos os frequentadores, fala de nomes que fariam qualquer cidadão comum saltar de espanto, mas assegura que nunca foi vítima de qualquer tipo de abuso: “Eu? Tá doido? Só estou aqui para assaltar os rabetas”, garante. E quando a Polícia aparece, questionou o NOTÍCIAS SEM CENSURA: “Não me apanham, porque fujo logo para o Metro.”

Mas Luís sabe mais coisas: “O pessoal anda quase todo metido na droga. Os meus colegas vão com os homens para arranjar dinheiro para o cavalo ou chinesa (heroína e cocaína). Há tipos que vêm cá ao final da noite para vender o produto. A maioria acaba por gastar todo o dinheiro que ganhou com os clientes. Eu não me meto nisso. Quero é arranjar dinheiro para me orientar na vida...”

Protestos em vão
Há muitos anos que os moradores das zonas limítrofes do Parque Eduardo VII sofrem com a prostituição infantil, juvenil e adulta. Quer masculina, quer feminina. Mas em Agosto de 1995 fizeram chegar os seus protestos, em forma de carta, às mais altas instâncias da capital: ministro da Administração Interna (era Alberto Costa actual presidente da Câmara de Lisboa), presidente da Câmara de Lisboa, que na altura era Jorge Sampaio, governador civil de Lisboa, presidente da Junta de Freguesia de São Sebastião da Pedreira, comandante-geral da PSP, comandante do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP e várias outras entidades receberam a missiva que alertava para o escândalo, mas todos fizeram “orelhas moucas”, como agora recordam os autores da missiva.

No documento eram relatadas situações como guerras entre “arrebentas”, que acabavam em confrontos à pedrada, danificando as viaturas de quem vivia na Avenida Sidónio Pais. Denunciava-se igualmente que as pessoas para entrar nos prédios tinham de pedir licença aos prostitutos, já que estes se postavam nas respectivas entradas à espera dos clientes. Os jovens moradores da avenida eram frequentemente abordados por homens que circulavam na zona. 

Quase nove anos após o escândalo Casa Pia, Domingos José, morador na rua, garante que nada mudou. Quer vender rapidamente a casa que lhe custou mais de 300 mil euros. Mas não consegue. “É incrível como se compra uma casa que vale uma fortuna e depois se sofre desta maneira. É verdade que quando telefonamos para a esquadra da PSP no Palácio da Justiça de vez em quando aparece um carro-patrulha. Só que os prostitutos desaparecem logo que a PSP é avistada ao cimo da rua. Assim que os polícias se vão embora regressam. É um jogo de gato e rato. Clientes para os meninos é que não faltam. E esses nem se dão ao trabalho de abandonar a zona.”

Nas barbas da PJ
O processo Casa Pia teve o condão de “deixar em descanso” o Parque Eduardo VII. Mas por pouco tempo, como agora confirmam os moradores da zona. Só que, conforme o NOTÍCIAS SEM CENSURA observou, as zonas de prostituição masculina infantil e juvenil na cidade alargaram-se. Actualmente, a zona do Conde Redondo é paradeiro de rapazes à espera de clientes. Curiosamente, com as instalações da Polícia Judiciária de Lisboa, na Rua Gomes Freire, a escassos metros.

Ali se fazem engates, ali circulam homens à procura de prostitutos e até já há oferta estrangeira. Rapazes romenos, russos e de outros países do Leste Europeu param na zona. 

“Queres fumar uma ganza?”, desafia Alberto. Perante a negação, dispara: “Tu não és dos nossos. És bófia? Desaparece já daqui.” Confesso que sou jornalista e o ambiente fica mais ameno. Alberto diz que é frequentemente apanhado pelas autoridades e espancado. Conta que um dia, que não sabe precisar, esteve 24 horas a “levar porrada dos gajos da Jota”. Mas assegura que nunca diz nada aos bófias e acaba por ser posto na rua. 

E também há tráfico e consumo de droga na Conde Redondo. Tudo na mais calma das descontracções e nas barbas da Polícia Judiciária. Ah pois é!


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