o pedro
Por Constança Cunha e Sá
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Não satisfeito com a sua mensagem de Natal, na qualidade de primeiro-ministro, o Dr. Passos Coelho resolveu este ano brindar o país com um pequeno texto íntimo no facebook, onde os portugueses surgem (não se sabe bem como) na qualidade de “amigos” e o remetente dá pelo singelo nome de Pedro. Ao contrário de Passos Coelho – o primeiro-ministro – Pedro – o amigo – junta-se a nós no infortúnio (que ele como primeiro-ministro nos infligiu), num alinhavado de frases que não honra a quarta classe, onde os erros de concordância abundam e o vocabulário revela uma confrangedora pobreza.
A redacção do Pedro, na sua penosa mediocridade, revela-nos antes de mais um ser (que, por acaso, é nosso primeiro-ministro) que não domina a língua que utiliza, deixando-nos sérias dúvidas quanto à articulação do seu pensamento – que como se sabe não é algo de etéreo e se traduz através da linguagem em que se expressa. Como se imagina, é sempre desagradável descobrirmos que, depois de tudo o que já passámos, chegámos agora ao cúmulo, de ter um primeiro-ministro cuja utilização da língua é no mínimo rudimentar. Este pormenor ajuda-nos a perceber a constante trapalhada conceptual em que o Dr. Passos Coelho navega, utilizando conceitos que não domina e frases que ninguém compreende. A título de exemplo refira--se apenas a misteriosa “refundação” que começou por ser do Memorando, depois aterrou no Estado, para acabar por se esfumar, sem que ninguém tenha alcançado o que o primeiro-ministro quis dizer – nem sequer o próprio, que, obviamente, não sabia o significado da palavra que utilizou.
Apesar de tudo, o essencial da mensagem percebe-se: embora este não tenha sido o Natal que merecíamos (presumo que o ajustamento das famílias de que tanto se gaba o governo não é para ser aplicado a épocas festivas), o Pedro garante-nos que devemos ter orgulho nos sacrifícios que fazemos porque a pobreza em si mesma é um mérito que devemos transmitir aos nossos filhos e netos, de forma que eles possam, um dia, ter um Natal melhor. Até lá temos de deixar os bifes de lombo com que nos empanturrávamos e recuperar o copo de dentes para pouparmos a água que até aqui sempre esbanjámos. E esperar que em melhores épocas, no tal Natal dos nossos filhos e netos, não tornemos a “viver acima das nossas possibilidades”, porque o país é pobre e os portugueses uns falidos irresponsáveis.
Este artificial esforço de proximidade, que o primeiro-ministro ensaiou no facebook, aconselhado por um qualquer assessor criativo, revela em todo o seu esplendor a indigência intelectual e política de quem nos governa. A mensagem aos “amigos”, além de tudo o que já foi dito, é um exercício degradante que diminui as instituições e enxovalha qualquer cargo político. O contacto directo com os cidadãos não se confunde com exercícios patéticos, nos quais o primeiro-ministro se deixa substituir pelo Pedro através de uma redacção medíocre, com laivos de um sentimentalismo bacoco que ainda por cima revelam as insuficiências notórias do primeiro-ministro que temos.
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