sopas de cavalo cansado
Na era da outra senhora, essa viúva negra, velha e feia que tanto nos azucrinou os dias e acinzentou a alma, as damas da caridade, ao mesmo tempo que oferendavam o pãozinho, o cobertorzinho, a sopinha, davam conselhos para melhor gerir o casebre e a pobreza de cada um: televisão ou frigorífico eram luxos proibidos, por exemplo, o pobre que se atrevesse a ter um deles perdia a esmola e a consideração das damas.
Os tempos são outros, mas esses seres são como minhocas que saem finalmente do esterco onde jazeram décadas, e regurgitam, vomitam conselhos: que defendamos o corpinho, dizem-nos, que deixemos de ir ao cinema e de ler livros que fazem mal aos olhos e nos abrem os olhos, que deixemos de fumar que faz mal aos pulmões, de beber álcool que faz mal ao fígado, e que consumamos sopinhas e muito pão, muita água, muita fruta, muito leite. Larguemos o peixe e a carne, esses caros venenos. O Serviço Nacional de Saúde é só para os sãos. Sai mais barato.
Em vez de ver televisão, façamos filhos. Do que o país precisa é de carne para canhão.
Imagem: http://wehavekaosinthegarden.blogspot.pt/
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