portugal, pasto para relvas
O poder oculto de Miguel Relvas na comunicação social - um perigo real para a sua liberdade!
João Lemos Esteves
www.expresso.t
Miguel Relvas envergonha o actual executivo. Sei, de fonte segura, que Nuno Crato se sente muito incomodado por se sentar ao lado de um "troca-tintas" , que fez o curso pelo método C (método da cunha), que é, ao fim e ao cabo, a negação do discurso oficial do Governo em matéria de educação, centrado na exigência e qualidade de ensino. Miguel Relvas é, numa frase, a personificação dos vícios do sistema político português. Se pensarmos num político que, no fundo, represente as nossas deficiências democráticas estruturais, que seja um modelo de maus exemplos e práticas políticas deploráveis, então iremos - certamente! - pensar em alguém com o perfil de Miguel Relvas.
O caso recentíssimo da RTP veio, apenas, confirmar que Miguel Relvas, embora pareça ausente, está sempre presente na redacção da estação pública. Após o saneamento político vil e miserável de que Nuno Santos foi alvo, subtilmente orquestrado a partir do gabinete de Miguel Relvas, nenhum jornalista se atreverá, com o mesmo desprendimento e liberdade de espírito, realizar uma peça informativa crítica relativamente ao Ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares. Por que é que este caso só pode ter a conclusão óbvia de que se trata de saneamento político? O mais cego é aquele que não quer ver - diz o povo na sua secular e irrefutável sabedoria. Pois bem, no caso RTP, os factos não deixam margem para dúvida. Pasemos a concretizar.
Primeiro - o Presidente da RTP é um amigo pessoal e uma escolha da inteira confiança de Miguel Relvas - designado, precisamente, por este Ministro para gerir a estação pública, depois de uma passagem pela gestão de empresas de cervejas. Cedo se percebeu que Alberto da Ponte assumiu o desafio da gestão da RTP com um objectivo: ser o comissário político de Miguel Relvas. Um dos primeiros pontos do caderno de encargos de Alberto da Ponte passava pelo afastamento de Nuno Santos, então director de informação, o qual se recusava a "beijar a mão" de sua Excelência Ministro Miguel Relvas. Ora, o episódio das imagens foi um pretexto ideal para concretizar o desejo do Relvas - que, com este episódio, não deixou margens para dúvidas de quem manda na RTP. A estação passou a ser o veículo de propaganda oficial (e oficiosa).
Em segundo lugar, Miguel Relvas - através do comissário Alberto da Ponte - decidiu escolher para director de informação da RTP nada mais, nada menos que....Paulo Ferreira. Qual é a nota distintiva deste jornalista, que, aliás, foi bem salientada pelos diversos órgãos de comunicação social? Ser o jornalista que tem analisado a execução orçamental do Governo com....mais optimismo! Ou seja, tem sido o defensor-mor de Vítor Gaspar nas suas intervenções televisivas. Claro que é só coincidência, claro...pois...nós sabemos....
Não pense, porém, o caríssimo leitor, que a influência de Relvas se resume à estação pública. Nem pouco mais ou menos. Na verdade, eu próprio testemunhei uma conversa entre Miguel Relvas - já Ministro! - e uma jornalista, em que o primeiro perguntava se a jornalista estava feliz com o seu trabalho - é que o sempre solícito Miguel Relvas tinha ouvido que a pobre tinha problemas com o seu Chefe de Redacção. Claro que ele, o Relvas, se mostrou disponível para resolver a sua situação....Palavras para quê? É Miguel Relvas. E basta. Pena é que a democracia esteja, assim, cada vez mais fragilizada.
O incrível doutor Relvas
Daniel Oliveira
www.expresso.pt
Este fim de semana, Miguel Relvas apareceu na escola de verão da JSD - um estabelecimento escolar que deveria ser inspecionado, já que dali pode surgir mais um futuro primeiro-ministro - e estava mais satisfeito do que nunca. Enquanto os restantes ministro envelhecem, Relvas parece cada vez mais jovem. Ele transborda vitalidade e alegria.
Ainda antes de Fernando Seara se apresentar como candidato à Câmara Municipal de Lisboa, já Relvas anunciava que contava com o seu voto. Começar com um patrocínio deste calibre não augura nada de bom para Seara, que já contaria com uma campanha muito difícil. Mas, ainda assim, Relvas tornou o seu apoio público. Devemos concluir que acha que o seu apoio vale, para fora do PSD, alguma coisa. Que ignora que a generalidade dos portugueses não o respeita.
A aparente inconsciência de Relvas sobre a forma como o País o vê faz-nos pensar que vive alheado da realidade. E que é essa jovial inconsciência a fonte da sua vitalidade. Acho que é um engano. Relvas é um político de outra natureza. Não é que a opinião que os outros têm dele lhe seja indiferente. Se fosse, não tinha feito tudo, menos estudar, para ter um canudo. Só que a opinião que lhe interessa não é a nossa.
Miguel Relvas é um fraco demagogo. O seu estilo populista passa mal. Mas, nos corredores, é um político hábil. As privatizações, o seu verdadeiro desígnio, lá se vão fazendo. Na realidade, devemos chamar-lhes doações. A TAP renderá vinte milhões, que mal dão para um pequeno trouço de autoestrada. Metade da RTP, gerida totalmente por privados e financiada pelas taxas pagas pelos cidadãos, deverá render menos que isso. Mas conseguirá fazê-las. Na televisão e rádios públicas e até em alguma comunicação privada está a conseguir fazer uma limpeza nunca vista. Quem se mete com Relvas leva.
A forma descarada como tudo isto se faz diz-nos que Relvas não se preocupa especialmente com a sua imagem pública. Um político tão hábil não pode estar assim tão divorciado da realidade. Também não me parece que o mova a riqueza pessoal. Nesta altura, faria, com a boa agenda que tem no PSD, melhores negócios estando fora do governo.
Miguel Relvas é um arrivista. É essa a sua história. É isso que explica quase todas as decisões que tomou no passado e toma no presente. A sua ascensão social não depende exclusivamente ou especialmente da sua conta bancária. E muito menos da sua popularidade. Depende da sua aceitação no meio a que sonha pertencer. Um meio que, em Portugal, não é especialmente exigente. Nem do ponto vista cultural - e Relvas cumpre os mínimos, próximos do zero, que a nossa elite económica exige aos recém-chegados -, nem do ponto de vista ético. Apenas exige que se tenha uma licenciatura para que não se tenha de usar o título de "senhor", quem noutros lugares é um elogio e por cá é um insulto. E, acima de tudo, que se tenha poder. Não respeita pilha-galinhas e sucateiros. Mas respeita quem lhe dê acesso direto à mama estatal. E Relvas tem a chave do cofre e ligação direta aos grandes empresários deste País.
Pedro Passos Coelho é um deslumbrado. Deslumbra-se com a alta roda do poder europeu. Com o brilho dos círculos restritos do poder. Com as ideias da moda e os académicos que as vendem a retalho. Relvas, que é mais dotado de senso comum do que os fanáticos que lhe fazem companhia no governo, sabe onde realmente está o poder que conta. É no meio dele que vai buscar a sua energia. Não a disfarça com leituras apressadas de sebentas ideológicas para iniciados. Nem essas fez. Quer ser um entre os que realmente mandam neste País. E vai ser.
Todos os políticos têm de ser um pouco vaidosos. Ninguém aguenta a visibilidade e o escrutínio público desta função se não o for. Há uns que querem ser lembrados pelo seu povo. A outros basta saber que um dia foram importantes. Homens como Relvas preferem ser respeitados pelos poderosos. Viverem no meio deles. Não são os mais perigosos. Predestinados como Vítor Gaspar assustam-me muito mais. Mas, de rédea solta, saem bem caros a um País.
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