portugal, um gigantesco bairro social
Por Raquel Varela
Digo-o agora com a mesma certeza que disse que os salários iam cair abaixo do mínimo: sem uma revolta social, sem um conflito corajoso, isto é o princípio de uma vida que se resumirá a comer frango de aviário, ficar preso às terras ou ao bairro, sem dinheiro para transportes ou férias, beber zurrapa. Com o tempo ficaremos mais atrasados, por isso mais desinteressantes, de vistas curtas da terra ou bairro onde estamos presos, até menos inteligentes, porque a inteligência é um talento que precisa de ser regado todos os dias. Com alguns anos, estaremos mesmo mais baixos, com olhos encovados como quem tem pouca proteína e falta de ferro. Mais feios por isso. Mais incultos, mais infelizes e claro, mais brutos… Este país era pobre, e por isso feio, baixo, atarracado, com bócio endémico, atraso mental e outras maleitas. E triste, muito triste, antes do 25 de abril. Por mais duro que seja ler estas palavras a verdade é que sair da pobreza com dignidade é um conto de fadas, que só existe na mesma escala em que se fica rico vindo de uma origem pobre. Quase zero portanto.
Espera-nos a coragem ou estaremos todos num gueto daqui a uma meia dúzia de anos, Portugal será um gigante bairro social. O nome dado aos lugares onde a sociedade abdicou de ser social e onde tantos lutam diariamente, desesperadamente, para se manterem humanizados, contra a barbárie da pobreza.
Se isto for para a frente a direita fez o que lhe estava na alma, a culpa será por isso também da esquerda, e de quem alimentou a ideia de que isto ia lá sem conflitos radicais. E claro, a culpa será também individual. De quem tem tanto medo de viver que acabará com medo na mesma, só que despojado de tudo, da vida, da dignidade, da felicidade, da possibilidade de ser melhor, de ver os filhos serem melhores. Sobrar-lhes-á o medo, nada mais.
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