passos, genitália, caniches e um modesto andar a massamá
Não perca a estreia de "O Príncipe Laranja na Corte de Massamá"; figurinos de Mário Crespo; guião de Felícia Cabrita, carpintaria de mestre Aníbal. |
Saiu a biografia do grande estadista Coelho pela pena de Cabrita, Felícia para os amigos. Sobre este estrondoso lançamento editorial, apresentado por Mário Crespo, uma voz que eu julgava independente, escreve Daniel Oliveira, no site do Expresso.
Cabrita, Coelho e suas caniches
Daniel Oliveira
Sexta feira, 1 de abril de 2011
Foi lançada a biografia de Pedro Passos Coelho. Sobre a autora, Felícia Cabrita, dispensam-se muitos comentários. Sabendo-se o papel que teve nos últimos anos podia pelo menos disfarçar um pouco. Mário Crespo apresentou o livro e, faça-se justiça, assumiu que este seu gesto era "eminentemente político". Nada contra jornalistas que assumem as posições. Desde que não o façam na hora de expediente. E que não confundam, como a justiceira e biógrafa oficial de Passos, campanha eleitoral com aquilo a que, no jornalismo, se dá o nome de "investigação".
A biografia merece ser lida. A história de "um homem invulgar" é de uma penosa vulgaridade. Para ser primeiro-ministro ou líder partidário não é necessário ter a biografia de um Mário Soares, de um Álvaro Cunhal ou até de um Sá Carneiro. São homens da fundação da nossa democracia. Carregavam a história consigo. Era um tempo em que o parlamento não estava povoado por gnomos políticos, em que representar o povo não era motivo de suspeita geral e em que governar era um pouco mais do que gerir decisões alheias. Mas não vale a pena inventar personagens que não batem certo com os atores.
Não se trata de uma hagiografia, avisa a hagiógrafa depois de distinguir o presidente PSD de uma classe política que exerce o poder "como se fosse um bando de bandidos" e de dizer que espera, "no mínimo, que ele consiga manter o capital que conseguiu até hoje". Sabemos que teremos a liderar o País, se os desejos de Cabrita e Crespo se realizarem, um homem que vive num apartamento de Massamá, sem luxos, e que trata das obrigações domésticas antes da esposa chegar a casa. Que espalha pela mesa da sala de jantar os livros e os papéis que utiliza como objectos de meditação para a "volta a dar ao país se o vier a governar".
Temos assim garantido um olhar distanciado e sereno de uma jornalista de mão cheia. Promete que ao lermos o seu trabalho teremos direito a um momento "a que não estamos habituados em Portugal": "conhecer em quem é que votamos". De facto, não fosse Felícia Cabrita e nunca se lançaria uma biografia simpática sobre um político em véspera de eleições. Desde o "menino de ouro", de outra jornalista sobre outro político, que não se via tanta ousadia.
Para encher 184 páginas com uma vida que se conta relativamente depressa, Felícia Cabrita não deixou nada de fora. Com a elegância literária que lhe é reconhecida, oferece-nos pormenores sobre a relação, na adolescência, do possível futuro primeiro-ministro com a sua genitália. Podíamos lá nós viver sem este "escrutínio público".
No "estilo voyeurista da crónica social" (palavras de Mário Crespo), o livro oferece-nos pérolas que ficarão para a história do sempre tão desprezado género biográfico. O momento mais belo é aquele que retrata a intensa relação intelectual que Passos Coelho mantém com os seus caninos seguidores. Não, não me refiro a Miguel Relvas. "As caniches, companheiras de muitos anos, aconchegam-se-lhe mal se senta em frente à lareira ainda sem brasas e escutam-no como se nenhuma das suas palavras fosse desperdício". Hoje somos duas, amanhã seremos milhões, já rezava, mais coisa menos coisa, o velho slogan do PPD.
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