campanha abortada
Passos Coelho e o aborto
Trazer para a campanha outra vez o aborto foi uma das maiores asneiras do ano
As declarações de passos Coelho sobre a "reavaliação" da lei do aborto, a sua disponibilidade para convocar "um novo referendo", bem como o recuo posterior, quando o PS lhe caiu em cima, revela um amadorismo político imperdoável, para um challenger do Poder. O líder do PSD, que tem procurado marcar diariamente a agenda, obrigando o PS a ir atrás (e evitando, ao mesmo tempo, esclarecer como aplicará o memorando assinado com a troika...), tinha todos os temas do mundo, menos este, para desenvolver: o desemprego, as PPP's, a bancarrota, os impostos, as contradições do Governo, as meias verdades de Sócrates, as marteladas no Orçamento de Estado, a deterioração da Justiça, a falta de meios das polícias, o ataque à classe média, o estrangulamento das empresas (incluindo as exportadoras)... O que quisesse. Mas não: Passos Coelho não encontrou melhor tema, entre aqueles que realmente preocupam os portugueses, do que o da revisão da lei da IVG!
E depois ainda dizem que o Bloco de Esquerda, é que tem a mania de colocar na agenda temas fraturantes... O que terá passado pela cabeça de Passos Coelho?
Vejamos: o aborto não está na ordem do dia. Não é discutido nas ruas, nos cafés ou nos transportes públicos. Foi resolvido ao fim de dois referendos. Não perturba a coesão nacional nem provoca, hoje, divisões na sociedade portuguesa. A lei (que não agrada a minorias militantes sempre ativas) é indiferente à maioria e não é posta em causa por praticamente mais ninguém. Já nem a Igreja fala disso.
Passos perde em todas: reforça a ideia de que muda o seu programa de cada vez que lhe sopram uma ao ouvido. Revela um comportamento errático, sem aconselhamento político nem estratégia. Dá a Sócrates, de bandeja, a vanguarda no campo da modernização da sociedade e da abertura de espírito. Permite que as atenções sobre os erros da governação se desviem para faits divers, onde não tem hipótese contra o concorrente. Não ganha um único voto, a não ser em nichos radicais de católicos - porque os outros já não estão nem aí. Perde a confiança de uma parte do eleitorado central, e de centro esquerda, de que precisa para fazer a diferença. Embrenha-se numa temática que não domina, embaraçando boa parte do seu partido. Arranja lenha para se queimar.
Porque diabo foi, agora, desenterrar esta? Com uma dispensa cheia de caixas de bolachas, à sua mercê, porque é que foi logo abrir a lata de sardinhas fora do prazo de validade?
Filipe Luís
Fonte: http://clix.visao.pt
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