o regresso do cavaquistão ou a portugalia monumenta pornographica
Era uma vez uma festa de aniversário, em que um grupelho de gente, que se achava país, mas mais não era do que um ajuntamento mal afamado de pessoas, combinou ir fazer um jantar de aniversário. Como vocês sabem, os jantares de aniversário têm várias etapas protocolares, umas boas, e outras menos boas, do tipo da do Obama a gaguejar, enquanto tocava "God save the Queen".
Uma delas passa pelo aniversariante chegar sempre atrasado, para permitir que as pessoas incompatíveis, que se vão sentar à mesa, se tratem como a água e o azeite, e se afastem, antes de estragarem a festa. Consequentemente, há quem chegue primeiro, e comece a pedir whiskies e martinis, gins tónicos e essas pequenas coisas, baratíssimas em qualquer restaurante, ou multipliquem as entradas, os carpaccios, as amêijoas à bolhão pato, os presuntos de parma, e há sempre uma ansiosa, que está de três meses e desejos, que quer 1/4 de Dom Pérignon, para ver se é tão bom se diz, ou ouviu dizer. Entretanto, como se sabe, já começam a chegar aqueles que se guardaram da fome o dia inteiro, para se desforrarem à pala do orçamento dos outros, e querem logo começar a pedir pratos.
Há dois tipos de pessoas nestas mesas, as do estado social, que pedem os pratos mais baratos, porque já sabem que aquilo vai sair da carteira de todos, e que nem todos têm a carteira recheada da mesma forma, e as outras, que vão sempre para o prato mais caro, já que aquilo, por norma, irá sair dividido pelos restantes, que deverão alombar com a crise.
Isto é só a primeira metada da fábula, porque, entretanto, ao chegar o aniversariante, já os martinis e os gins se multiplicaram, e os gulosos do primeiro prato já estão a contabilizar, e a enfardar, o segundo. O álcool, como Manuel Alegre sabe, é como as cerejas, e, a meio do banquete, já toda a gente se adora desde sempre, adorará para sempre, e retoma memórias do tempo em que Saddam Hussein era o Herói do Ocidente. É este o tempo dos retardados, quando começam a abancar os que tiveram atrasos, engarrafamentos, mentiras de última hora, ou vêm só para a sobremesa, para poder manter a linha... da carteira.
Não sei quanto tempo pode durar esta fase, liguem vocês o cronómetro, e façam contas, porque eu sou péssimo delas, e nelas, mas, no final, quando a parábola entra na euforia descendente, e os casais se levantam, porque amanhã é dia de trabalho, ou têm uma goela aos berros em casa, só deus sabe se não tornada já em Maddie, e os solteiros têm uma queca marcada para de ali a meia hora, e começa alguém a dizer que é preciso fazer contas, e os empregados a forçarem com as luzes que se apagam, e, nestes entretantos, toldados pelo etílico, como o Ruben de Carvalho, antes das Assembleias Municipais de Lisboa, enfim, nestes entretantos, descobre-se que muita gente já deu à sola, e só ficou à mesa, sentado sob o olhar feroz do gerente, um grupo de palermas, que acabará por arcar com a conta inteira. Suponho que não tenha sido exagerado no que narrei, pelo que passamos à analogia, e, depois, ao lado científico da coisa.
O início deste jantar chamou-se Cavaquismo, em que a Europa nos enchia de milhões a fundo perdido, milhões para melhorar habilitações, para melhorar especializações, para erradicar analfabetismos, para melhorar vias de comunicação rodo e ferroviárias, para criar infraestruturas, para abrir o País ao exterior, tornando competitivas as exportações, e dando espaço para que as nossas pequenas maravilhas agrícolas, vinícolas, artesanais, industriais e cerebrais se tornassem visíveis na Comunidade Europeia. Os homens que iam pescar na Terra Nova voltariam mais depressa, e com pescado para colocar, qualidade demarcada, nos novos mercados europeus. Os nossos génios inventivos já não teriam de penar ver as suas brilhantes ideias roubadas e patenteadas por outros, por falta da miserável quantia de as poder registar a nível mundial. O queijo da Serra teria mercados mais vastos e certificação, através de poderosos investimentos seletivos. Os portos de Portugal, assim como os seus estaleiros, iriam passar a praticar taxas altamente competitivas, tornando as primeiras costas da Europa uma atraente zona de passagem para o resto da Europa, acessada por uma teia viária excelente, barata, e acompanhada por uma rede de alta velocidade, que nos ligasse aos consumidores do Centro e Norte da Europa. Que tal colocar os nossos melhores vinhos, em seis horas de viagem, nos seletivos armazéns de Paris, Londres, Milão e Bona?... Magníficas universidades, a lançar nos mercados europeus crâneos poliglotas, doutorados em áreas de ponta, e todas as editoras recauchutadas e aliadas com o mercado brasileiro, para fazer ecoar as nossas melhores vozes da escritas nos escaparates das capitais onde ainda se lê. Um calçado excelente, e parcerias de modelismo e moda, capazes de criarem marcas rivalizadoras com as Lacoste, as Boss e as Armani. Os cristais da Stephens e da Marinha Grande melhorados, e os nossos tecidos a monopolizarem as procuras dos maiores estilistas mundiais. Uma rede informática a ser desenvolvida a alta velocidade, a par com a pesquisa euroamericana, e os nossos excelentes litorais a serem explorados por cadeias portuguesas de turismo de alta qualidade e preço acessível, para turistas de classe média e alta, da cansada Europa, e, ah, sim, a recebermos o melhor do intercâmbio da juventude, tornando Portugal uma referência incontornável nos lazeres dos outros povos trabalhadores. Urânio, Ferro, Volfrâmio, Ouro, Prata, Estanho e Lítio, sim Lítio, com pesquisas internas, para saber onde está o nosso petróleo, e grandiosas centrais de energia eólica e solar, unidas com o geotérmico das ilhas, com forte aposta no biodíesel.
A Europa sonhava alto com o progresso de Portugal, mas estava enganada, porque Portugal, recém saído das mãos do FMI, estava a ser governado pela maioria absoluta de uma das mais estúpidas, retrógradas, atrasada e cega ao rumor da contemporaneidade, criatura, que conhecêramos. Era um Salazar sem virtudes, cuja corte de medíocres nos fazia ressaltar, um passo em frente, e dois atrás, até ao fundo da Cauda da Europa.
Chega de lamúrias históricas, e vamos ao pragmatismo: não tenho acompanhado, senão com náusea, aquilo a que vulgarmente chamam a "Campanha Eleitoral", aliás, a campanha eleitoral é um mero pretexto para vadiar as coisas do costume, com os intervenientes da pura saturação, e vamos começar a provocação:
O Sr. Sócrates destruiu a Agricultura de Portugal?
O Sr. Sócrates destruiu os estaleiros navais de Portugal?
O Sr. Sócrates fechou as minas de Portugal?
O Sr. Sócrates fechou a Indústria Têxtil de Portugal?
O Sr. Sócrates desmantelou a rede ferroviária nacional?
O Sr. Sócrates atrasou 20 anos a ligação dos centros portugueses à alta velocidade europeia?
O Sr. Sócrates abateu a indústria pesqueira dos portugueses?
O Sr. Sócrates criou cursos fantasma, onde os "formadores" se abotoavam com os dinheiros da formação e davam "diplomas" sem saída?
O Sr. Sócrates permitiu que cadastrados, como Cardoso e Cunha, chegassem a Comissários Europeus e Esbanjadores da Expo-98?
O Sr. Sócrates reduziu o Teatro nacional a lixos La Feria?
O Sr. Sócrates deixou que o Vinho do Porto passasse a ter a etiqueta "Made in California"?
O Sr. Sócrates deixou que o país se cobrisse de eucaliptos, após o abate sistemático de oliveiras e sobreiros?
O Sr. Sócrates criou um sistema de escravos clandestinos, que vinham, em forma de pretos, cobrir o país de betão, para depois serem lançados porta fora, ou em guetos cheios de ódio e desintegração social?
Foi o Sr. Sócrates que impediu que Leonor Beleza fosse julgada, como em outros países se foi, por contaminação voluntária, ou involuntária, de doentes, com HIV?
Quem permitiu que uma "reforma fiscal" criasse um monstro financeiro, equivalente à Fraude Madoff, e chamado BPN?
Quem deu imunidade, e impunidade, a gente como Valentim Loureiro, Ferreira do Amaral, Mira do Amaral, Dias Loureiro, Duarte Lima, e aos pedófilos Eurico de Melo e Valente de Oliveira?...
Foi o Sr. Sócrates?...
Não, o Sr. Sócrates só chegou no fim do jantar, sacou a sua parte, e, quando pediu a conta, verificou que o Cavaquismo e arredores tinham sabotado o terreno para lá de tudo o que era possível. Era uma conta astronómica.
Culpem, pois, Sócrates do que é culpado, e assaquem as responsabilidades a quem antes o pôs em tais lençóis.
É bom que o FMI tenha voltado, no tempo da criatura que mais o temia, Aníbal Cavaco Silva. Quando a organização internacional se sentou e pediu para ver as contas, não deverá ter percebido como se podia ter criado tal abismo salarial entre as bases, trabalhadoras, horas infinitas, de tarefas inúteis, num país sem agricultura, indústria, pescas, minas, nem nada que se pudesse exportar, e as cúpulas, miseráveis, sem habilitações, autocontemplativas, estranguladoras e sufocadoras de qualquer iniciativa, mas banhadas em dinheiro.
Sim, não era possível cortar salários a quem já os tinha os mais baixos da Europa, não era possível atirar com bombas de impostos a quem já tinha uma das mais barrocas cargas fiscais do tecido do Espaço Comum. Que fazer a um povo que não contraiu uma dívida, e está a ser vítima de uma dívida contraída por uma corja que viveu muito acima das suas possibilidades e das possibilidades dos restantes?... Por que é que em Portugal não havia um único culpado deste descalabro preso?... Por que é que identificados os madoffs, aind aestavam todos em Cascais, nas suas fortalezas de luxo?... Onde paravam quase trinta anos de fundos de reformulação de um país atrasado legado por Salazar, que agora estava atrasado, e legado por alguém que não assumia essa responsabilidade?... Como se podia circular num pais onde as estradas violavam todas as regras da segurança, e tinham custado dez vezes mais do que em qualquer lugar do Mundo?... Como era possível ter existido uma suspeita pedófila sob todo o Estado, e haver cinco gatos pingados a pedirem para ser indemnizados, pelo seu nome estar... sujo?... Como é que circulavam, nas estradas de um país que não produzia nada, tantos carros topo de gama?... Como é que havia tantas casas de luxo, num país sem mercado industrial, nem qualquer pretensão a praça financeira de referência?... Por que é que Portugal era, impunemente, a principal porta de entrada de tráfico de droga, de clandestinos para a prostituição, de armas e de combustíveis radioativos?... Quem é que, afinal, governava Portugal, ou, em Portugal, o Estado estava entregue a si mesmo?...
O Sr. Sócrates, por quem nunca nutri grande admiração, apareceu no fim deste repasto. Quem construiu esta aberração foi um provinciano, chamado Aníbal Cavaco Silva, que traiu o seu País, o seu Partido e a nossa história coletiva. Em qualquer outro país civilizado, teria sido chamado ao banco dos réus da História. Em Portugal, uma vergonha europeia, foi eleito com 25% da população deste "país", à beira da Bancarrota, de que ele foi pai e avô... "Presidente da República"...
É, portanto, a estes estranhos 25% que este texto se dirige, considerando os restantes meros assistentes, e vítimas, de um ato público de agressão, à sombra, e a pretexto de um escrutínio: estas mesmas pessoas, que tanto acreditaram na credibilidade, e "hònestidàdë", do homem que destruiu Portugal, devem, agora, dar-lhe um braço amigo que o apoie, nos tempos difíceis que se avizinham. Estes 25% de Portugueses, as forças vivas do país moribundo, devem, pois, reeleger José Sócrates, para que ele possa apoiar o seu padrinho de Boliqueime, mas eu, aqui, estou a desviar-me da violência do texto, que quero retomar: Passos Coelho, que não representa ninguém, mas à sombra do qual se recomeçaram a perfilar as piores sombras do Passado, que pense no seguinte: de cada vez que forem desenterrar um cadáver mal condenado do Cavaquismo, os Catrogas, as Belezas, os Loureiros, os Cadilhes, o anão discípulo de Eurico de Melo, e lhe o puserem ao lado, estão a desencadear, em certas gerações que foram trituradas pela destruição do PSD, do País e da nossa Esperança, as mais amargas memórias. O Cavaquismo não é alternativa a nada: o Cavaquismo é um período que deveria ter tido direito ao seu Julgamento de Nuremberga, e não teve, e, se há Sócrates, é porque já tinham sido instaladas, pelo Cavaquismo, as mais sólidas raízes para o seu eclodir. o Sr. Passos Coelho tem de decidir, de uma vez por todas, se é o candidato do regresso do Cavaquismo, ou do chamado Partido Social Democrata, porque, as dívidas públicas e os desempregos não se tornam astronómicos em 6 anos; o descrédito mundial, sim, quando os emprestadores se questionam "para quê emprestar a uma gente que, quando recebeu de graça, foi, durante décadas, incapaz de acautelar o seu futuro?..."
Aníbal Cavaco Silva governou, ou governou-se, ou deixou que uns tantos se governassem, sempre convencido de que saltaria do barco no momento do naufrágio: Teve azar: 25% de pessoas que não pensam, ou que estavam tão chocadas com ter Presidenciais onde havia uma sanita e dois bidés, por esta mesma ordem, Cavaco, Alegre e Nobre, atrelaram-no, de novo, à nossa demência histórica. Acho que fizeram bem. Devem, pois, completar o par, e sentar à mesma mesa quem consumiu, e quem ficou, no fim, para pagar, ou seja, o Sr. Aníbal, mais o seu insuportável Zé, de Vilar de Maçada.
Pelo que escrevi, devem perceber que encaro o 5 de junho como uma réplica do horror de 25 de janeiro, com algumas oscilações, mais radiotividade e imprevisíveis tsunamis: José Sócrates é a figura forte e ressuscitada, e tira-lhe o chapéu quem tanto o combateu; Passos Coelho é o joguete de gente que o trucidará caso, mal, perca; Portas representa a tal terceira via, que provocou descalabros nos espetros eleitorais da Europa, e espero que o faça; o PCP ensimesmou-se, e pagará por isso, e o Bloco de Esquerda vai ver algo parecido com outra fábula, a da cigarra e da formiga.
Pelo meu discurso, já perceberam onde não vou votar, mas ficam sem saber onde votarei. Como disse, adoraria ver a cara saloia de Cavaco a ter de dar posse ao Sócrates que traiu, há dois meses. Uma coisa rápida, assim, do estilo do ganha um dia, e no dia seguinte já não ganha, só para ver a cara do outro. Será um cenário penoso, como penoso seria que Sócrates perdesse, e tivéssemos um Governo, uma Maioria, um Incontinente.
Com o meu voto, tentarei ainda tornar este cenário mais penoso, para o espetro de Belém.
Espero que, com o vosso, façam exatamente o mesmo, ou pior, se para isso tiverem imaginação :-)
(Quinteto pr'á desgraça, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Uma Aventura Sinistra", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")
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