mais uma vez, o exemplo vem de espanha

Terá sido o 12 de Março, em Portugal, não mais do que uma gigantesca manifestação contra Sócrates e o seu governo em vez de uma iniciativa anti-sistema como os seus promotores a idealizaram? A resposta mais provável é: sim. Depois dessa data histórica, os portugueses acomodaram-se, voltaram para o aconchego dos seus lares e não participam, narcotizados ou inconscientes do que se avizinha: cortes profundos no Estado Social, aumentos de impostos, flexibilização despudorada dos despedimentos, indemnizações reduzidas a montantes que não garantem, a ninguém, a mínima sobrevivência em caso de desemprego prolongado, e o muito mais que ainda está por anunciar, mas que Pedro e Paulo, os novos santos da paróquia, já deverão ter congeminado entre eles.

No entanto, em Espanha há semanas e semanas que os protestos se alargam a todas as gerações e a todas as cidades de uma forma avassaladora. Ontem, Domingo 19 de Março, foi marcada mais uma manifestação a nível internacional a que os espanhóis aderiram em massa. Por cá, escassas centenas espalharam a indignação entre a Avenida da Liberdade e o Rossio. Fomos poucos. Soube a pouco. Mas sei que este caudal engrossará mais tarde ou mais cedo, quanto mais não seja quando os bolsos de cada um se começarem a ressentir do roubo institucional de que todos vamos ser vítimas. Aí sim, reagirão e maldirão, muitos, o dia em que deram o seu voto a quem tanto os maltrata e despreza. Ainda não será tarde. Nunca é tarde. O mundo pode esperar.

As imagens de Madrid.
Post image for Photo gallery: historic 19-J protests shake Spain









Comentários

Anónimo disse…
Receio que em Espanha acontecerá a mesma redução de aderentes após a espectável queda de Zapatero e do actual partido do governo em próximas eleições. Reacção natural, já que personificam a austeridade e dificuldades.
Todas as alterações de mentalidades, culturas e alterações institucionais têem a sua demora natural no caminho para educar-se, debater-se, divulgar-se e evoluir. Agora é o abanão inicial para uma crescente consciencialização e discussão cultural. Ser activista de causas tão fracturantes do status quo é um compromisso sério, uma promessa para uma vida. Querer ser herói para os 15 min na TV, videos e redes sociais é hipocrisia. Alinhar pela festa ou pela tribo é imaturo. Ser seguidor por ter tempo livre é ser-se mentiroso e traição aos que assumem por consciência. Esperar que a simples pressão dos protestos faça ceder o poder instituído para este por fim dar o que se pede, é ingenuidade ou chantagem. Há que dar tempo para separar o trigo do joio no seio do movimento, que manifesta querer a via pacífica. Para alterações rápidas, só as revoluções. No plano individual, não parar de reflectir, procurar sempre aprender e saber pensar por si. E depois, se decidido o rumo da luta, assumir o compromisso e avançar para colaborar na acção. Os meus parabéns e grande respeito a todos os que já agem conscientes das suas razões e verdadeiramente comprometidos. SS

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