finito
Por Constança Cunha e Sá
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Num tom de jubilosa serenidade, o dr. Vítor Gaspar decidiu informar os portugueses que o esplêndido programa congeminado, com desvelo, com a troika ruiu com estrondo, arruinando, pelo caminho, milhares e milhares de portugueses. Ao fim de dois anos, o aluno disciplinado, determinado a ir além do que lhe era exigido, falhou todas as previsões e não conseguiu atingir um único dos seus objectivos. O défice não foi cumprido, o desemprego disparou, as receitas fiscais diminuíram, o consumo interno encolheu drasticamente e as previsões sobre recessão, essa cereja em cima do bolo, sobem sempre que o ministro das Finanças abre a boca sobre tão escaldante matéria. No Orçamento do Estado surgiu o auspicioso número de um por cento. Dois meses depois, o Orçamento foi à vida e o ministro, sem qualquer sobressalto, duplicou o valor da recessão. Agora, já vamos em 2,3 por cento e o dr. Vítor Gaspar, respaldado no seu imenso prestígio externo, diz-nos apenas que vamos no bom caminho e que o governo não pediu mais tempo nem mais dinheiro. Naturalmente, não se dignou explicar o que tinha corrido mal, nomeadamente nos últimos dois meses, que o levou a esta pirueta macroeconómica. O mundo mudou, como acontecia, com frequência, nos velhos tempos do eng.º Sócrates? Talvez.
A incompetência atinge proporções drásticas no que toca ao desemprego. Se há pouco mais de dois meses, o governo anunciava que o seu valor em 2013 iria ser de 16,4, agora o esfíngico ministro das Finanças informa--nos que este poderá chegar aos 19 por cento. O quadro adensa-se para 2014, ficando por explicar como é que com um crescimento anémico nos próximos anos (se tal acontecer, claro), é possível diminuir estes valores. Pormenores!
Como seria de esperar, face a estes números catastróficos, o governo não desarma: o ajustamento é para continuar, com mais doses de austeridade, com os famigerados cortes de 4 mil milhões de euros e o mais que for necessário para tapar os inúmeros desvios das contas do ministério das Finanças. Como, aliás, sempre disse, os cortes provisórios passam a permanentes e a queda dos impostos que se seguiria aos cortes no Estado não vai acontecer. O adiamento do défice para mais um ano não é, como alguns entusiastas se apressaram a proclamar, uma vitória do governo, mas sim a perfeita confirmação do seu absoluto falhanço. Perante isto, e como seria natural, o primeiro-ministro não parece disposto a retirar qualquer consequência dos estrondosos erros da sua política. Nem a nível económico. Nem sequer a nível político: num país normal, o dr. Vítor Gaspar seria expeditamente corrido por triste e má figura, depois de ter falhado gloriosamente em tudo o que se propôs.
Como nota de rodapé, o PSD descobriu agora que o programa de ajustamento foi “mal desenhado”, com projecções e efeitos que não tinham qualquer adesão à realidade. Depois de ter andado, durante dois anos, a tecer loas ao programa, considerando mesmo que era necessário ir mais longe nas tais projecções e efeitos. Curioso, para dizer o mínimo.
Fotografia de Rodrigo Cabrita (http://www.ionline.pt)
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