tudo para o galheiro
Por Luís Rainha
Andaram anos a dizer-nos que Portugal é uma família de moinantes que gastou muito mais do que podia. Acreditamos na fábula? Vamos então actualizá-la.
A família Coelho teve de cortar nos gastos. O pai reduziu por decreto contas de supermercado, mesadas, livros e inutilidades similares; até o tempo dos banhos. Mas os megafones da fábula tinham- -se esquecido de algo: muito do rendimento da família vinha do que vendiam uns aos outros. Sem clientes, o ginásio da filha fechou, a mercearia do filho emagreceu e o estaminé de venda de gás do genro esvaziou-se. O dinheiro lá de casa seguiu o caminho do dodó. Do alto da sua clarividência, opater familias nada disto imaginara. Sai nova invenção: “Vamos gamar o cheque da pensão do avô. De caminho, obrigamos o inútil do primo desempregado a dar-me um bom bocado do subsídio, antes que o gaste em parvoíces. E como os funcionários públicos são uma cambada de madraços, saquemos uns euros valentes à tia Ana.”
Os abrangidos torceram o nariz e foram fazer queixa às autoridades competentes. Meses volvidos, a sentença chegou: é feio roubar, ainda por cima sem olhar a quem, portanto devolva-se o esbulho. Reacção: o Coelho pai entrou em casa furibundo, a pontapear tudo e a culpar os tribunais por não entenderem o seu “contexto”. Depois de maltratar o cão, já de serrote em punho, rosnou: “Ai é? Então vamos lá cortar um rim, um fígado e umas córneas a esta tribo de chupistas. Vende-se aos mercados. Com tudo estropiado ou morto é que isto vai.”
Fim?
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