a anilha do doutor cavaco silva
Cavaco lá andou pelas Selvagens onde, dizem hoje, ufanos, os noticiários, dormiu descansadinho, sem que a batata quente que deixou em Lisboa lhe tivesse tirado o sono ou atormentado a consciência. Anilhou aves, daquelas com nomes esquisitos de que só fixei a cagarra, quem m'agarra que me vou a ele. Percorreu a ilha a pé, de ténis e polo azul bebé, reverentemente seguido por uma vasta comitiva paga por todos nós. E ainda teve tempo para uma perninha nas televisões, que lhe transmitiram em directo, atentas, veneradoras e obrigadas, as sábias palavras. E em directo arrotou postas de pescada. Que era no mar que estavam as nossas grandes oportunidades económicas, diz ele, o mesmo que deu cabo dessas oportunidades enquanto primeiro-ministro (um milagre de votação que nunca consegui entender, mas adiante, o que lá vai, lá vai). E aproveitou ainda o ensejo para mandar recados para o Continente, pressionando os partidos da direita e o da esquerda anilhada a entenderem-se, acusando alguns elementos não especificados - mas anti-patrióticos, está bom de ver - de estarem contra o acordo com que ele, doutamente, quis dotar a Nação.
Entretanto, no Continente, Seguro parece um pedaço de morcela aporrinhado entre dois bocados de broa, a da esquerda e a da direita, a de cima e a de baixo. Mas Seguro, com sentido de Estado, saberá decidir o que é melhor para Portugal e para os portugueses, safando-se airosamente da guilhotina em que Cavaco o quis entalar.
Cavaco sabe da poda como ninguém. E de pescas. E de anilhas. E de pensões de reforma. E de política não sendo político. E de escutas. E de consensos. E de vaquinhas. E de eleições, as mesmas que não quer porque os mercados nos castigariam.
E de democracia, já se vê.
Imagem: Miguel A. Lopes/Lusa (http://noticias.sapo.pt)
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