pesadelo interminável
Por Viriato Soromenho-Marques
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Afinal a hemorragia financeira do BPN ainda não terminou. Como naqueles pesadelos em que pensamos ter acordado, para logo de seguida perceber que afinal ainda estamos mergulhados nas suas sombras e ameaças. Parece haver razão para apontar o dedo a Maria Luís Albuquerque, pela assinatura de um ruinoso contrato com o BIC. O banco que comprou o BPN pela bagatela de 40 milhões de euros, afinal só se responsabiliza pela gestão dos lucros potenciais, pois os prejuízos continuam a ser pagos por todos nós. Mas o mais grave, contudo, é perceber que o BPN é uma metonímia, uma espécie de miniatura caricatural do drama europeu. Em setembro de 2012, a Comissão Europeia calculava que os contribuintes europeus já haviam gasto 4,5 biliões (milhões de milhões) de euros para salvar o sistema financeiro (o que na Europa é sinónimo de "sistema bancário"). Isso quer dizer que a banca europeia já custou aos cofres dos Estados europeus dez vezes mais do que o conjunto dos resgates à Grécia (os dois), à Irlanda, a Portugal, ao sistema bancário espanhol e ao Chipre. E sem fim à vista. Pelo contrário, a "união bancária" prevista ameaça tornar tudo ainda pior. Até nisto, a estratégia de austeridade se revela absurda. Em vez de combater a principal raiz do problema, a saber, uma União Económica e Monetária (UEM) que permitiu à banca transformar-se na fonte esmagadora de criação monetária, incluindo a moeda falsa posta a circular pelo crédito tóxico, a política de que Merkel se tornou o rosto continua a confundir as vítimas com os culpados. Os desmandos do BPN, sobre os cidadãos e o interesse público, simbolizam a tragédia da diabólica engenharia da UEM. Duas estórias cruzadas, condenadas a terminar mal.
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