no país das rábulas, as fábulas são do coelho
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Teatro Aberto, Cornucópia, Seiva Trupe, Barraca, eles vão caindo, um por um, porque o teatro é subversivo, o teatro faz pensar, o teatro é inconveniente e os actores - ah, os actores! - veja-se quantos deles estão engajados ao comunismo e a outras ideologias nefastas. É preciso exterminá-los, cortar o mal pela raiz, e fazer com que o cinema, já agora, leve o mesmo descaminho. A cultura não dá de comer a ninguém, a cultura é um luxo de intelectualóides de esquerda, o povo, o povinho, o povoléu quer-se a labutar e a cuidar dos seus, a procriar, a criar mais uns quantos seres calados, escravizados, subservientes, pagadores de impostos, pau para toda a obra, carne para todo o canhão. Actores, cantores, realizadores, escritores, pintores são dores, abcessos de uma Nação doente. Um país deve ser feito de economia, de empresas, de dinheirinho a entrar nos cofres, de mão-de-obra barata. Mas, para ser barata, não pode pensar. Não pode saber pensar. Que não vá nem um cêntimo para essa gente do teatro. O dinheiro quase não chega para os banqueiros, os empreendedores encostados ao Estado por via das PPP e de outros negócios chorudos e sem risco, as clientelas do costume, os do Partido e os amigos do Partido, os apaniguados, os apoderados, os refastelados da vida. Para Eunice Muñoz, Rui de Carvalho, Maria do Céu Guerra, Luís Miguel Cintra, Diogo Infante e tantos outros do rebotalho, do reviralho, que os há para aí aos pontapés - nada produzem e vivem à conta de subsídios, a sua contribuição para o avanço económico do País é mais do que nula -, para esses népia, raspas, nicles batatóides. Se querem sobreviver façam revistas à portuguesa, vaudeville, comédias ligeirinhas, musicais porreiros, operetas inócuas, óperas rock de fazer abanar o capacete e aquietar a cachimónia. Façam como o La Féria. Não façam peças só para os amigos. Ibsen, Tchekhov, Gil Vicente, Shakespeare, Pirandello, Molière e até Dario Fo são autores de balelas que não esquentam nem arrefentam, parolices de diletantes e, pior ainda, portadores de vírus, dos micróbios da revolta. E nós não queremos isso. Um povo tanso é um povo manso.
Deixem-se de fantochadas. Façam-se à vida!
Deixem-se de fantochadas. Façam-se à vida!
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