o carácter de um homem
Então, em que ficamos? As dívidas à Segurança Social prescrevem ou não prescrevem? E quanto é que Coelho deve, 2 mil e tal, 5 mil e tantos ou os largos milhões com que o Correio da Manhã faz hoje parangona? E se realmente estava em dívida, como ele próprio admite, por que raio é que Mota Soares veio dizer, pelos vistos mentirosa e levianamente, que tudo não tinha passado de um erro de secretaria? E o homem, é apenas distraído ou um rematado trapaceiro? Pode alegar desconhecimento da lei, ele que foi deputado e é primeiro ministro para mal dos nossos pecados e carteiras? Desconhecer a lei iliba-o de responsabilidades sabendo que qualquer cidadão, por mais bronco que seja, não se pode desculpar com tal ignorância para justificar o incumprimento das suas obrigações?
Parecem coisas de somenos. Mas não são. Por estes actos, palavras, contradições, sinais de desprezo pela cidadania e os seus deveres, se vê o carácter de um homem. E um homem como este nunca poderia ter sido figura maior de um país. De uma república de Coimbra, talvez. De um cói de salteadores, sem dúvida. De um banco em falência fraudulenta, também não vou contra. Mas primeiro-ministro?
Nestes tristes anos que levamos de Coelho mal passado, indigesto, daninho para a saúde de qualquer um, os portugueses têm sido alvo de escandalosos assaltos por parte do fisco, da SS, de empresas públicas e não públicas mas que contam com a conivência do Estado. Inventam-se dívidas, aumentam-se coimas, criam-se taxas e impostos, reduzem-se salários, retiram-se pensões, ameaça-se, penhora-se, condena-se sem apelo nem agravo.
Com que moral, pergunto eu, a não ser a de um xerife de Nothingham batoteiro e rapace ou o déspota de uma qualquer república das bananas, pode Coelho vir agora exigir que paguemos mais para a Segurança Social, alegando a sua insustentabilidade?
Infelizmente, não existem neste mundo, e acho que nem no outro, um Robin dos Bosques, um Zorro, nem mesmo um Cavaleiro Andante que nos venham ajudar a combater a infâmia. Temos que ser nós os nossos próprios heróis, com poderes até hoje insuspeitados. Basta ter a coragem de usá-los.
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