há mais vida para além da direita (PS incluído)
Deixo-vos aqui as razões de algumas pessoas que me tenho habituado a ler, e tantas vezes a comungar opiniões, ideias, ideais, sonhos. Não para o convencer a votar neste ou naquele partido. Mas para ver que o voto não precisa de incidir fatalmente sobre os partidos da troika, PS, PSD e CDS. Há outros. Diferentes. Mas, com defeitos todos eles, ou não fossem humanos os que lhes dão vida, honestos nas suas intenções. Aproveite o sábado de reflexão para lhes ler os programas, destes e de outros. É o que vou fazer.
A campanha eleitoral foi dominada pela troika.
A troika de acusações entre José Sócrates e Passos Coelho.
«Aquilo» foi tudo entre eles, Portugal e os portugueses pouco tiveram a ver com os seus assuntos – um pouco à semelhança dos blogues de política, quando um autor começa um texto com um link para outro autor, em resposta a qualquer coisa que o outro disse, mas não se dando sequer ao trabalho de elucidar o leitor sobre o que se está a passar. O que interessa é mostrar que a sua pila intelectual é maior que a do outro.
Paulo Portas, inteligente, o mestre do soundbyte, nunca me convencerá. Portas é um twitter com duas pernas: consegue dizer verdades absolutas em 140 caracteres, com a convicção dos grandes monólogos. No outro extremo e igualmente inteligente, Louçã – o líder de uma manta de retalhos que forma um tecido de esquerda frágil e que ainda não consegui perceber até hoje.
Dos cinco, Jerónimo de Sousa é o único com quem simpatizo: a sua ideologia «anacrónica» e «ultrapassada» (a consistência, em política, paga-se caro) é exposta como quem diz provérbios populares – e é também isso que o torna tão genuíno.
Respeito Garcia Pereira, mas dececionou-me nesta campanha.
Até hoje não sabia em quem votar – só tinha a certeza em quem não votaria.
As sondagens dizem-nos, todos os dias, que o próximo governo irá sair de uma coligação entre PSD e CDS – e isto não me agrada mesmo nada. Por outro lado – e não sofrendo eu da esquizofrenia anti-socrática das caixas de comentários dos jornais – não posso votar num partido que se diz «socialista» mas que se apressará, caso vença, a fazer acordos com o CDS.
Sendo eu uma pessoa de esquerda (mas apartidária), o único sentido que posso dar ao meu voto, tendo em conta os tempos de cavaquistão que se aproximam, é o de ajudar a reforçar a presença da esquerda no Parlamento – a esquerda que se recusa a trocar convicções por pedacinhos de Poder é uma voz necessária neste mundo dominado pelo lucro e pela ganância, e não há argumento que me convença do contrário.
É por isso que, pela primeira vez na minha vida, vou votar na CDU.
Usando uma expressão do Pedro Couto e Santos, lidarei com o facto de ter uma nódoa comunista na camisa – uma nódoa que alguns não resistirão à tentação de querer limpar. Bem, desejo-lhes boa sorte.
Fonte: Marco Santos, http://bitaites.org
Caro Garcia Pereira
Não sou comunista. Se um dia a sociedade fosse totalitariamente comunista, eu seria oposição, fuga ou morte. REJEITO-O COM TODO O VIGOR da minha alma livre, de poesia, sonho e utopia. Valores que me mantêm livre e contra a corrente, confesso.
Não sou trabalhador nem operário. A não ser das palavras e das ideias e da música. Dessas sim, tenho os calos da vida e da viagem derramada pelo Mundo e o prazer de todos os palcos em que renasci. E os que me convidaram e aplaudiram foram cúmplices.
Não tenho partido. Penso por matriz e direcção própria, caso a caso, os conceitos de justiça e as prioridades da vida e do Mundo. Decido as soluções, reunindo facilmente com o meu próprio Kremlin, sito no andar mais alto de mim, espaço da massa cinzenta, oitava circunvolução frontal esquerda, face aos valores da minha educação, bom senso e inteligência.
Não sou proletário. Converti paulatina e cuidadosamente os aplausos que me deram em património pessoal, que melhorei, cuidei e embelezei, e que sinto hoje orgulho e prazer em possuir, para compartilhar com a família e os amigos. Fruto do meu trabalho, do meu suor, de muitos milhões de kms, de muitas alegrias e amarguras. Nunca aceitaria que mo roubassem.
Sinto o conceito de Democracia Popular, o maoismo, o Livro vermelho, tudo isso, uma saudosa e terna memória de juventude, entre o menino e a procura, entre o risível e a bruma da memória, uma espécie de museu da teoria política e de um acreditar que até me faz sorrir. Nunca acreditei muito em grande coisa e muito menos nisso.
Mas – cumprido, ao que parece o pressuposto prioritário que é a derrota deste Governo…- votarei em si. Pelo desassombro, pela valia, pela voz necessária, pela valentia, pela persistência, pela confiança que me transmite de fazer um bom cargo e sobretudo pela inteligência. Nunca, jamais, pensei na vida fazê-lo. Mas aceito em emprestar-lhe o tal voto para que tenha voz.
Um abraço
Pedro Barroso
Músico, Autor, Compositor
Enquanto o país se prepara para reflectir seriamente em votar no trio da troika e entregar o nosso destino a mãos sujas e estrangeiras, eu insisto em pensar no que terá corrido tão mal na constituição genética lusa para termos chegado a este ponto. Esforço vão, parece-me, e faria melhor em pensar no tempo que se seguirá ao acto de depositar o meu voto na urna. Urna que, de resto, simboliza na perfeição o que vai acontecer daqui para frente. Portugal, o morto-vivo, o cadáver adiado, entrega a execução das suas exéquias aos carrascos, a tal troika maldita PS-PSD-CDS. Há alternativas, há outras soluções? Só não vê quem prefere não ver, só não quer quem tem medo, a tal maldição de que padecemos, de que para sempre padeceremos. Eu, conservadoramente, voto no mesmo partido desde que voto, e voto porque esse partido continua a apresentar as únicas soluções viáveis para ressuscitar o cadáver. Vamos lá ver, quem poderá negar a evidência, uma vez mais: a alternância do centrão - com a intermitente parasitagem do partido do vice-rei Portas - é uma mortífera dança que, um pouco mais à direita ou voltando ao centro, nos foi conduzindo à cova. Já disse isto? Direi, e quantas vezes forem precisas, e recuso-me a aquiescer perante o queixume de quem vota sempre nesta troika do Inferno. Querem crise, pobreza, manutenção de privilégios, clientelismos, capitulação perante o poder económico, derrota? Votem PS, PSD, CDS. E daqui a 5 anos, quando o fundo for ainda mais profundo, quando afinal tudo ainda estiver pior do que agora, parabéns, tiveram o que escolheram. E apenas aceitarei o queixume de quem sofre com a manutenção da ordeira dança das cadeiras. Aos outros, nada. A única alternativa a esta tristeza é de esquerda.
Fonte: Sérgio Lavos, http://arrastao.org/
Porque irei votar…
…no MPT? Por muitas e variadas razões, a primeira das quais, cumprindo os conselhos de quem surge nos ecrãs televisivos, invariavelmente pedindo que não concedamos a nossas confiança ns “mesmos de sempre”. Sabemos quem são e isto, há 37 anos.
Vou votar no MPT, porque:
-Poque jamais considerei a questão do chamado “voto útil”, especialmente se essa utilidade beneficiar o actual quadro parlamentar e as suas respectivas correntes nos centros de distribuição de sinecuras e partilha de interesses. Nada separa o PS do PSD, CDS, PCP/PEV – vulgo CDU – e PSR/UDP, mais conhecido por BE. Nada! O meu voto é consciente.
- É o herdeiro directo do inestimável trabalho do arq. Ribeiro Telles, um homem que conhece e pensou Portugal como um todo, sem peias de interesses locais ou de situações propiciadoras do beneficiar ínfimas minorias. Portugal não é um negócio.
- Porque num país de tradição marítima, num país que reivindica a maior área económica exclusiva atlântica, o MPT – seguindo o PPM dos anos 70/80 -, propôs e conseguiu a criação do Ministério do Mar, até hoje considerado apenas como uma mera designação sem conteúdo.
-Porque privilegia uma relação especial extra-europeia, precisamente com aqueles países outrora incluídos na soberania portuguesa e hoje parceiros essenciais para o nosso próprio crescimento económico. A CPLP deve deixar de ser uma figura de retórica que se destina a satisfazer ociosos frequentadores de estéreis cimeiras.
- Porque o ambiente e a sua defesa, não consiste num simples detalhe: ambiente é o ordenamento territorial, é a ocupação do interior, é a consolidação das actividades económicas tradicionais, é a defesa do património erguido ao longo de séculos, é o ensino da nossa História tal como ela deve ser contada intra-fronteiras, consolidando a consciência nacional. Ambiente é legislar no sentido de os animais deixarem de ser “coisas” e das florestas deixarem de ser meros centros de produção de madeiras. Florestas são florestas, plantações são plantações, há que assumir a difrença fundamental.
- Porque não me agrada a nova onda de um chamado progresso quantificado sempre através de gráficos que visam tranquilizar aquilo que mais preocupa o homem: o estômago. Sou contra os transgénicos, contra a “alimentação Frakenstein”, geralmente pugnada pelos mesmos interesses que cartelizam o sector primário, a banca e as farmacêuticas. Porque acredito na necessidade de uma legislação acerca de produtos chamados biológicos – na realidade, todos são “biológicos”, embora alguns estejam mais livres de invenções que outros -, numa mais atenta política que zele pelo interesse da saúde de uma população inevitavelmente cada vez mais envelhecida e na imperiosa necessidade de novas regras, na comercialização de medicamentos. O Brasil está a fazê-lo e com sucesso.
-Porque acredito na participação dos trabalhadores na gestão das empresas e na sua entrada no capital e titularidade das mesmas, sem o sofisma do Estado patrão, a ditadura jamais assumida. Porque acredito no cooperativismo e no abate de peias nos impostos e regulamentações excessivas que tolhem a iniciativa daqueles que pretendem organizar-se para produzir. Por exemplo, muito mal fez a 3ª República à agricultura e pescas portuguesas.
- Porque creio ser útil converter os empréstimos bancários às actividades produtivas criadoras de emprego em operações de capital de risco.
- Porque acredito na viabilidade da adequação das contribuições das empresas à Segurança Social, de acordo com o número de postos de trabalho e dos lucros auferidos.
- Porque creio ser urgente a criação de um imposto sobre os movimentos de capitais internos e externos, com o único fim do financiamento de uma nova geração de políticas de inserção/prevenção da pobreza endémica.
-Porque creio ser imprescindível o estabelecimento de um montante de isenções fiscais para as PME e empresários em nome individual. Sem isso, continuaremos condenados ao quase monopólio das grandes construtoras dos sátrapas do regime.
-Porque me oponho totalmente à construção do novo aeroporto de Lisboa, sugerindo o imediato aproveitamento de bases como Alverca – no seguimento da Portela – e impedindo também, maiores atentados à Reserva Ecológica/Agrícola Nacional.
-Porque sou totalmente favorável à concessão de benefícios fiscais às famílias numerosas (hoje em dia, 3 ou mais filhos), ou com elementos idosos a cargo ou filhos deficientes.
-Porque sou favorável à participação dos trabalhadores na gestão democrática das instituições públicas de saúde, facilitando a sua acção na organização dos seus serviços. Isto chama-se autonomia e gestão de meios.
-Porque urge a imposição da normalidade do recurso aos genéricos – principalmente no SNS – fomentando a indústria nacional, cortando custos, criando novos hábitos de consumo e levando à universal aceitação da unidose e sua prescrição.
-Porque acredito ser urgente – estamos 40 anos atrasados – a autonomização do sistema escolar, abrindo a possibilidade das escolas definirem o próprio projecto educativo, com a criação dos necessários currículos técnico-profissionais. Se Bismarck fê-lo há 150 anos, também disso seremos capazes.
-Parece-me imperioso um decidido esforço na criação de programas de educação para a diversidade que facilitem a integração dos alunos imigrantes – a História de Portugal é imensamente rica e a perenidade imperial, um exemplo disso mesmo – , ajudando também à compreensão geral das culturas de origem. Sob o signo da Lei Geral do Estado.
-Porque devemos imediatamente implementar a prática de criação de “oficinas de cultura” – ateliers, espaços para determinadas actividades sectoriais, por exemplo – incentivando a criatividade e o surgimento de associações ou cooperativas culturais, sejam elas de artes plásticas, cinema, pintura, etc. O Estado é detentor de centos de grandes imóveis totalmente ou semi-abandonados, prestes a serem absorvidos pela especulação imobiliária dos senhores ligados ao poder instituído. Portugal não é um negócio.
-Pela revisão imediata dos currículos escolares, adoptando-se critérios tendentes à reintrodução de “aulas de descompressão” e criatividade, como artes plásticas, educação musical, teatro, dança. Não podem ser estas realidades pertencentes apenas aos sectores privilegiados do ensino privado, ou reminiscências das para sempre desaparecidas ditaduras soviéticas/nacional-socialistas.
- Por um maior controlo dos circuitos de distribuição de mercadorias, especialmente aquelas que ilegalmente entram na fronteira aberta, arruinando os produtores nacionais.
- Porque no sector da Defesa Nacional, urge definir as FA à dimensão e realidade territorial da nossa soberania, sem qualquer tipo de preconceito “politicamente correcto”. Isto pressupõe uma total revisão daquilo que são a Marinha e a Força Aérea Portuguesa, garantindo a posse política e económica da ZEE. O Exército deverá obedecer à dimensão adequada que permita atender aos compromisos internacionais a que Portugal se encontra ligado.
-Reconhecer o direito ao voto – em todas as eleições do sistema político – dos imigrantes com residência – e actividade legal -, assim como o normal acesso á saúde. É a única via para um esforço na integração.
-Liquidação dos desnecessários Governos Civis e atribuição das suas funções a estruturas do Estado já existentes. Basta de boys, girls e anexos da moda.
Muitos pontos ficam ainda por esclarecer, pontos esses que poderão ser conhecidos através do Programa do MPT. Apesar de não ser filiado ou militante, sou um independente que conhece esta gente há trinta anos e sabe que são inabaláveis. Para mais, muitos deles, tal como eu, são férreos opositores à existência da fictícia República Portuguesa e pretendem uma outra Constituição, generalista e que garanta direitos e deveres, com a abolição das estultas inutilidades de Procuradorias e Supremos, meros artifícios que controlam o acesso ao poder. A sua remoção e a instauração da forma de representação histórica do Estado, torna-se no imperativo que impedirá a diluição da actual República Portuguesa, na fatal, complexa e absorcionista Monarquia Espanhola.
Fonte:Nuno Castelo-Branco, http://aventar.eu
Comentários