os truques idiotas de passos coelho para justificar o injustificável

Por Daniel Oliveira




Durante anos José Sócrates usou a mais velha táctica da cobardia política: dividir para reinar. Virar uns contra os outros e governar à custa do conflito. Pais contra professores. Trabalhadores do privado contra funcionários públicos. Precários contra trabalhadores com vínculo. Novos contra velhos. A estratégia funcionou durante uns tempos. Até já todos terem sido vítimas do ódio. E foi aí que todos se viraram contra ele e já não havia quase ninguém para o defender. Colheu o clima social insuportável que semeou.

Sem argumentos morais, políticos e económicos para justificar as suas mentiras eleitorais e o roubo de funcionários públicos e reformados, Passos Coelho resolveu seguir pela mesma linha. Porque assalta os trabalhadores do Estado - que ele despreza, porque despreza o papel do Estado - para cumprir um programa que nos afastará do fim da crise? Por uma questão de justiça. Sim, isso mesmo: Passos fala de justiça para explicar um ato de pilhagem. Diz que os trabalhadores do Estado recebem 10% a 15% mais do que os trabalhadores do privado.

Não é apenas uma mentira. É uma mentira perigosa.

Passos Coelho esquece-se de dizer que entre estes trabalhadores estão, por exemplo, a maioria dos médicos e professores deste País (já para não falar de magistrados, diplomatas, enfermeiros, técnicos superiores da Administração Pública). Ou seja, que o Estado, pelas suas obrigações, contrata muito mais trabalhadores qualificados e licenciados do que o privado. É isto, e não qualquer desigualdade salarial, que explica esta diferença. Não é o salário de cada um, é o conjunto da massa salarial. Compara-se o que é comparável. Comparem, só para dar um exemplo, o que ganha um médico no sector privado e no público e perceberão rapidamente que o Estado não paga bem. E, por isso mesmo, assistimos a uma sangria de bons médicos do público para o privado, com prejuízo para todos nós.

Segundo um estudo de 2006, da consultora internacional Capgemini, encomendado pelo Ministério das Finanças, os funcionários públicos recebem, em média, salários mais baixos do que se estivessem a trabalhar no sector privado. As diferenças vão dos 30% a 100%. As diferenças maiores são nos trabalhadores licenciados. As menores nos trabalhadores menos qualificados - mesmo estes com vantagem para o privado. Ou seja, os funcionários públicos ganham menos quando comparados com trabalhadores do privado com as mesmas funções ou habilitações. A não ser que Passos Coelho julgue que pode pôr pessoas sem formação superior a lecionar nas escolas ou a fazer cirurgias, está a fazer demagogia e populismo com um assunto muito sério e num momento demasiado grave para truques idiotas.

Dirão que o estudo tem cinco anos. Será pior agora. Os funcionários públicos foram quem mais perdeu nesse período. De 2005 a 2013 (só com as medidas já anunciadas), terão perdido, em média, quinhentos euros de salário bruto. Um terço do seu salário médio.

Quando tomou esta medida Passos Coelho fez uma declaração de guerra a funcionários públicos e reformados. Mas depois destas declarações explicou que procura essa guerra. E se é assim que lidará com a revolta de todos aqueles a quem tenciona roubar rendimentos de trabalho seria bom olhar com atenção para a Grécia. Poderá descobrir que o mito dos "brandos costumes" nacionais é mesmo isso: um mito.

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