vendam-se as cidades, acabe-se com isto


Privatizem-se as cidades e o Estado arrecadará massa que nunca mais acaba. Isso sim, era revolucionário, Portugal seria o grande precursor de uma nova maneira de gerir municípios e de fazer dinheiro, montes de dinheiro. Entreguem-se as câmaras, mediante uma choruda quantia, claro está, a privados. Que administrarão os municípios como se fossem empresas. Afinal de contas, não são os neoliberais que passam a vida a dizer-nos, ad nauseam, que os privados são melhores gestores do que o Estado? Claro que teríamos que pagar mais impostos, mais taxas, mais emolumentos, se calhar pagar o direito a atravessar a rua, deitar lixo no contentor, passear nos jardins, tomar banho numa praia, mas, caramba!, também não se pode ter tudo. O Estado tem uma dívida enorme (que, segundo eles dizem, fomos nós que fizemos). Pois então que a paguem à nossa custa. Às nossas custas. Vendam estradas, vendam cidades, vendam a água, vendam o ar, quanto mais puro mais caro, até o Sol se for preciso, quanto mais quente melhor. Vendam-nos a nós também, embora sejamos gente de fraca valia, só útil enquanto trabalha e paga impostos mas sempre um estorvo, uma excrescência, o rebotalho.

Venda-se. Venda-se tudo. Esta é a época áurea da globalização. A noção de pátria, o conceito de património nacional, já não fazem sentido. O mundo é uma multinacional. E nós, Portugal, um negócio menor a tomar pela força, ao desbarato. 

Se não vendermos a bem, vamos vender a mal. Para isso é que existem, por lá, mercados, chantagem financeira, agências de rating e, por cá, políticos serviçais. Para levar todo um povo ao tapete, vencido pela fome, o desemprego, a incerteza, a angústia de uma vida em permanente sobressalto. Para que verguem de vez. Um povo submisso é mercadoria barata.

Comece-se por vender as cidades. Depois, logo se vê onde os novos garimpeiros vão desenterrar mais dinheiro e enterrar mais gente.  Que mina, que filão vão explorar a seguir.

O mundo é um mar de oportunidades. Há que saber aproveitá-lo.

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Levei, com o devido ©. Obrigado.

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