golpe de estado

Por José Luiz Sarmento

Na Grécia demitiram um primeiro-ministro por ousar falar em referendo e puseram em seu lugar um homem de mão da Goldman Sachs. Na Itália moveram com toda a facilidade um primeiro-ministro inamovível e substituiram-no por outro membro da mesma associação de malfeitores. 

Em Portugal, onde as eleições puseram na chefia do governo um senhorito deslumbrado pela vertigem radical do neo-liberalismo, enquadraram-no não por um, mas por dois acólitos da seita: Vítor Gaspar e António Borges.

O problema era o défice, disse a troika - também ela governada a partir de Wall Street. E era a dívida pública, e a privada, e a despesa. E a produtividade, mas essa podia ficar para mais tarde: para os amanhãs que cantam. 

A solução era a austeridade, mesmo que tivesse que ser aplicada em período de recessão. O objectivo era mudar de políticas para que os problemas diagnosticados fossem resolvidos. Mas o tempo passou e os problemas agravaram-se. Era preciso insistir, disseram-nos. E insistiu-se. E os problemas continuaram a agravar-se. E os portugueses começaram a ler os economistas, e começaram a dar-se conta que os problemas se continuariam sempre a agravar porque a sua causa principal estava nos remédios utilizados - segundo a seita - para os resolver.

A única mudança que se sentiu - que se sentiu mesmo, com os olhos e os ouvidos e a pele de cada um - foi na situação dos trabalhadores por conta de outrem. E foi uma mudança para pior. Começou-se com os funcionários públicos, passou-se depois ao sector privado, aos reformados, aos pensionistas, e sempre no mesmo sentido: reduzir e precarizar rendimentos, enfraquecer o Estado Social.

Até que se ultrapassou uma fronteira. Pedro Passos Coelho, há três dias, e hoje Vítor Gaspar, disseram finalmente ao que vinham. Não era à redução do défice, que aumenta, não era à redução do desemprego, não era ao aumento da produtividade. Tratava-se tão-só de reduzir salários - o mais possível e o mais permanentemente possível - de precarizar vidas e de transferir riqueza de quase toda a gente para um único beneficiário: a oligarquia financeira e rentista que nunca perdoou o 25 de Abril.

Francisco Louçã falou num golpe de estado económico. Mas um golpe de estado económico nunca é só económico, porque uma transferência de riqueza desta magnitude não se pode fazer sem uma correspondente transferência de poder. No fim de semana passado o regime político mudou em Portugal. Sem consentimento dos portugueses.

Pedro Passos Coelho já não é o primeiro-ministro da República Portuguesa. É o cabecilha duma junta golpista que usurpou o poder a partir do momento em que ousou "contornar" o Tribunal Constitucional. Não lhe devemos obediência, mas resistência. A qualquer custo.

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