o que rende é ser dono do continente


Damas e cavalheiros, meninas e meninos, acorram aos grandes saldos de operários, trabalhadores agrícolas, caixas de supermercado, empregados de escritório, professores, médicos, engenheiros e os outros bandalhos da valerosa Nação! 


"Sem mão de obra barata não há emprego", disse o Belmiro da Sonae e da venda das raparigas e demais populaça, defendendo com unhas e dentes, com presas e garras, "as economias baseadas na mão de obra barata". O Belmiro das promoções, liquidações, descontos, cartões, preços choque, preços sensação, preços de ocasião que é o que faz o ladrão, o Azevedo é amigo da escravatura, das chinesices, dos soldos em queda, da miséria bem comportada, e avesso às chatices dos sindicatos, das reivindicações, das manifestações de uma dúzia de marmanjos enraivecidos, comunas enlouquecidos que não sabem nem sonham que é Belmiro que comanda a vida e a morte de cada um.

Bafejado com o pensamento profundo de um merceeiro em larga escala, Belmiro não se cala e vem queixar-se da "baixa produtividade" dos trabalhadores portugueses. Os empresários são bons, são expeditos, são espertos, são experts, os funcionários é que são maus, vejam lá, incapazes de um esforço maior ainda que o prato de sopa não melhore nem em qualidade nem quantidade, não mais do que uma aguadilha com fiapos de couve galega e banha de porco a boiar na gamela.

Mas Belmiro, um dos homens mais ricos do país, foi mais longe, veio protestar, com a veemência dos seres predestinados, contra as manifestações, esse "carnaval permanente". Além de pobrezinho, o povo, agradecido, devia era lamber as mãos do dono e deixar-se de arrufos, amuos e protestos que não levam a nada porque é Belmiro quem mais ordena dentro de ti ó cidade murada, campo de trabalhos forçados, prisão de andrajosos e de famintos. 

Trabalhem e calem-se, merda!

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