uma fraude, e desta vez não foi um beneficiário do RSI, pois não?

Por Francisco Louçã
http://www.leituras.eu*

Uma fraude? Mais uma. Em 2013 foi a descoberta da rede de lavagem de dinheiro em alguns offshores, o que não constituiria propriamente uma surpresa, em finais de 2014 foi oLuxleaks, revelando como o principado negociava com multinacionais o seu esquema da evasão fiscal, agora é a vez da Suíça, o maior de todos os paraísos fiscais no mundo.

A Suíça, mas só uma pequena parte: a informação que está a ser investigada abrange unicamente o ramo de Genebra do HSBC, banco inglês, o segundo maior grupo bancário do mundo, mas deixa de fora quase todo o sistema bancário que está baseado na Suíça.

Entretanto, o Le Monde obteve a lista das ligações francesas do HSBC: lá estão profissionais liberais que fogem ao fisco, o rei Maomé VI de Marrocos, desportistas, modelos, negociantes de diamantes, pessoas suspeitas de serem traficantes de armas ou parte da Al Qaeda. No total das várias listas, o montante chega a 180 mil milhões de euros.

Não há aqui motivo para surpresa. Em Portugal, a “operação Monte Branco”, como antes a “operação Furacão”, como antes o caso do BCP ou o caso do BPP, como agora o caso do BES, todos demonstram a importância dos paraísos fiscais nos circuitos de branqueamento de capitais, de fuga ao fisco ou de acumulação de fortunas. Um livro recente, “A Riqueza Oculta das Nações”, de Gabriel Zucman (Lisboa, Temas e Debates), calcula em 30 mil milhões o dinheiro depositado por cidadãos portugueses na Suíça (imagine quantos défices seriam pagos por estes impostos em falta). Só é preciso ter o poder e os contactos suficientes para lá chegar.

Segundo os jornais, esta lista inclui cerca de 200 portugueses, mas muito mais pessoas com residência em Portugal. É certo que ainda nenhum jornalista conseguiu verificar a lista e os nomes que têm sido citados merecem confirmação. A discrepância entre o número de residentes e de nacionais também exige esclarecimento. Mas uma coisa é certa: é assim mesmo que funcionam os paraísos fiscais.

Não é preciso mais uma fraude para se concluir que o sistema financeiro é, ele próprio, o gerador da fraude. Pois não?

* originalmente publicado no jonal Público.

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