o tango da mentira
É interessante verificar como as gentes que ainda estão do lado de Passos Coelho - poucas, muito poucas, cada vez menos - insistem, nas redes sociais, em blogues, nos jornais, em repetir até à saciedade duas ou três mentirolas que urge desmascarar (não é que isto já não tenha sido feito, não é que a grande maioria dos portugueses não se tenha apercebido já de que tem sido levada em sucessivos contos do vigário). Estão bem ensaiados, isso estão, e merecem-me admiração por isso. A primeira mentira, ou pelo menos apenas meia-verdade, é a de que foi Sócrates o responsável pela bancarrota do país (e, para carregar mais nas tintas, espalham aos quatro ventos notícias e vídeos antigos sobre escândalos, nunca confirmados, dos estratagemas e tropelias do ex-primeiro-ministro). Outra é a de que estamos nesta situação por nossa culpa, porque andámos a viver acima das nossas possibilidades. Mentira de que até o próprio Presidente da República fez eco esquecendo-se, enquanto se queixava do parco valor das suas reformas, de que os portugueses são dos que menos ganham na Europa. Finalmente, agora que o povo acordou, surgiu uma nova atoarda, que tenho lido, com várias nuances, em várias fontes: que os que estão descontentes com a governação são os que sempre viveram à conta do Estado. Que eu saiba, a vastíssima maioria dos descontentes não são militantes de partidos políticos, não alcançaram cargos às vezes principescamente pagos graças às suas ligações partidárias, não são administradores de PPP's, nem presidentes de Fundações, nem receberam subsídios fosse para o que fosse, sempre pagaram os seus impostos, exagerados para o que o Estado lhes dá em troca, sendo, isso sim, verdadeiro afirmar que o Estado - pela mão dos seus "estadistas" - é que sempre tem vivido à nossa conta, nunca o contrário. São mentiras, insinuações, boatos que se espalham aos quatro ventos e, sempre gostava de saber, palavra de honra que gostava, qual é a central de informações que os inspira e instiga. Porque isto não são iniciativas de que uma pessoa se lembre assim do pé para a mão. "Olha, lembrei-me de repente daquela notícia de que a família do Sócrates tem muitos milhões em offshores. Deixa-me cá procurá-la para a tornar, de novo, viral no facebook".
Ao jeito de Paulo Portas, digo: Sócrates não foi um bom primeiro-ministro? Não, não foi. Sócrates terá rabos de palha? Sim, deve tê-los. Sócrates eram um mentiroso? Também o é Passos Coelho. Sócrates gastou mais do que mandaria o bom senso? Sim, gastou. Mas não foi Sócrates, nem o comum dos portugueses, que geraram esta crise. Foi o capitalismo. Que se quer salvar sacrificando populações inteiras, massacrando-as, empobrecendo-as. Custe o que custar. Os factos são mais do que evidentes mas muitos ainda não os querem ver, por ignorância ou fanatismo ou puro egoísmo, esquecendo o sofrimento de tantos: se a culpa fosse só do Sócrates, apenas Portugal estaria a viver uma crise financeira sem precedentes. Mas não está. Espanha também. Irlanda também, Itália também. Grécia também. E, qualquer dia, muitos outros países da Europa e do mundo. O capitalismo está em estertor mas não morrerá sem arrastar, consigo, milhões de vítimas. Nós somos das primeiras. Outras virão.
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