a oeste da europa, mesmo junto ao oceano, fica o nosso portugal, lindo torrão lusitano
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Portas bufa, ufano, que os mais humildes não se manifestam. E Portugal lá vai ficando em Estado Novo. Todos pobretes e alegretes, pobrezinhos e honrados, contentinhos e calados. Convém não lhes dar nem pão nem educação, para que se quedem no seu cantinho, ao borralho da lareira, se vivem na aldeia, ao relento, se vivem na cidade e se deitam pelas ruas da amargura. É o homem novo que reaparece, faltam-nos ainda, mas cá calharão, os serões para trabalhadores, fátima, futebol e folclore, as sopas de cavalo cansado, a sardinha para quatro, o pé descalço, a esmola para os pobres da conferência de S. Vicente de Paulo, a distribuição de cobertores pelo Natal, as Jonet e as Tatões e as Xaxões em saraus de beneficência, as molduras com as fotografias dos nossos líderes penduradas nas salas de aula na companhia de Jesus, a farda da alegre mocidade em que o S será substituído por um P, que tanto dá para Pedro como Paulo, Passos como Portas. P de Portugal é que não será concerteza. Porque Portugal é só um laboratório de experiências, como o foram noutros tempos os gabinetes médicos nos campos de concentração nazis. Portugal será uma reserva de escravos, um depósito de mão-de-obra ao preço da uva-mijona. Portugal será um exemplo para a Europa e para o mundo, o orgulho dos mercados, uma China miudinha, um Chile onde não faltarão os Pinochet, os Milton Friedman, as botas cardadas. Há cá de tudo, até estádios de futebol às moscas para onde podemos atirar os contestatários, os pedreiros-livres, os ateus, os ricos que se manifestam, os milionários que protestam, o reviralho, os revisionistas, os sindicalistas, malandros e madraços que não gostam de Passos nem de Portas. Saudosistas, os otários choram a revolução perdida, a revolução que nunca chegou a haver, e atravessam pontes para lado nenhum, não há potes no fim de arco-íris, não há amanhãs que cantam, o Sol não brilhará para todos nós, avante camaradas o tanas, seus sacanas. Pedro e Paulo, o duo maravilha, são mais fortes, têm o poder do dinheiro, têm a mentira como arma, o empobrecimento como punição e meio de correcção de vícios e sonhos de grandeza. Pobres não nos manifestamos. Pobres não nos inquietamos. Pobrezinhos seremos honrados. Pobretes ficaremos alegretes. Sem paz nem pão, sem saúde nem educação, eles triunfarão. Está quase. Têm um Américo em Belém ou qualquer coisa por ele. Têm magalas nos quartéis e sopeiras no parlamento. Têm a legião sediada à Buenos Aires. Têm espiões, provocadores e bufos nas redes sociais. Falta-lhes exterminar a Constituição. Só mais uns Passos e a obra ficará completa. Entrementes, enquanto o pau não vem, cá vamos cantando e rindo, levados, levados sim.
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