ir ao engano


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Por Luís Rainha

Os media estão nas mãos da Esquerda. Este mantra enche há anos a boca e a prosa de quem se sente encafuado numa maioria amordaçada. Custa imaginar Balsemão de punho erguido e T-shirt do Che; mas a visão de redacções inteiras em uniformes norte-coreanos, aguardando a próxima ordem de serviço do Bloco, é irresistível para as meninges oprimidas de uma certa Direita-Calimero. Os exemplos são esmagadores: há dias, um passeio contra o aborto quase não deixou rasto noticioso - os comunas censuraram a santa manif!

Curiosamente, o outro lado tem queixas homólogas: por três vezes, o movimento Que se Lixe a Troika tentou divulgar a sua descida às ruas do próximo sábado. Os insultos a Cavaco e a prisão de um activista desaguaram no prime-time; a convocatória ficou na sala de montagem.

Com a "manifestação" de apoio à troika, não houve bloqueio ou medo que resistisse. Aguilhoada pela fome de bizarria, a Imprensa cobriu em força o evento, que acabou por se revelar uma inteligente paródia.

Em tempos idos, já um programa da SIC ousara convocar uma manifestação falsa; de louras contra as anedotas preconceituosas. Os jornalistas sentiram-se ofendidos até ao tutano pela provocação. E claro que não aproveitaram para reflectir sobre os mecanismos perversos que viciam as suas agendas. Hoje, o fair-play é maior. As reacções azedas vieram sobretudo de quem garante não haver pressões para abafar a indignação: agora, choram pelos repórteres ingénuos e enganados... lágrimas tão sinceras quanto a manif.

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