o trombone do animal feroz
Eu até gosto que o Sócrates meta a boca no trombone e cá vai disto que amanhã não há. Admito que grande parte do que ele contou a Clara Ferreira Alves, durante a entrevista ao Expresso, corresponda à verdade. Apesar de lhe ter sido feroz opositor nos idos de 2008-2011 (parece que foi há um século), sempre me repugnaram as campanhas miseráveis que contra ele se fizeram, a começar pela "insinuação" de homossexualidade quando Sócrates competia contra Santana Lopes, numa primeira incursão pelo estilo americanóide de fazer baixa política. Já se via, por este exemplo, do que o PSD era capaz para ganhar eleições. Poder-se-á retorquir que Santana não soube do plano nem foi a tempo de evitar a calúnia. Nem isso é verdade: ele próprio insinuou que era o único macho que concorria a primeiro-ministro, ele era o que gostava de estar entre mulheres.
Lembra-se? Eu lembro-me, que não tenho a memória curta.
Sócrates deu os primeiros passos, que Passos aprofundou, para tirar aos pobres o que aos ricos sobejava, em clara contradição com a doutrina do seu partido. Por isso rechacei Sócrates, abominei Sócrates, lutei contra Sócrates.
Mas o substituto é pior, muitíssimo pior. Os seus spin doctors, técnicos de comunicação e marketing, homens dos bastidores, peões de brega e touros enraivecidos, ele próprio está claro, são capazes das maiores mentiras e intrigas para ganhar eleições. E depois de eleitos, como sentimos todos na pele, são capazes das maiores bandalhices, pulhices, intrujices e outras javardices para cumprir o seu programa de empobrecer Portugal e os portugueses.
Por isso gosto de Sócrates ao trombone.
Porque ele sabe mais do que nós. Porque ele sabe das conspiratas entre São Caetano e Belém para o depor e trazer a troika para nos salvar. Salvação, redenção que estamos a sentir, todos os dias, na carteira, nos nervos à flor da pele, na angústia que nos rouba o prazer da vida. Sócrates sabe, e nós também, que não foi ele que trouxe a troika para cá. Mas ele tem factos. Factos que queremos conhecer, um por um, até ao último pormenor. Para saber até que ponto chega a sujeira da política e a vilania de certa gente, capaz de sacrificar, martirizar e afundar na miséria todo um povo por um lugar ao Sol. Sol que, felizmente, se vai extinguindo a cada dia que passa. Até que a criatura e o criador morram de frio, no frio da sua torpeza e profunda imoralidade. Nunca a morte de alguém, politicamente falando, me saberá tão bem. Tão bem que vou festejar-lhes o funeral.
Venha de lá esse trombone!
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