mãe velha
Por Fernanda Mestrinho
Despachou os jovens para a emigração, insultando-os, agora atira-se aos velhos como gato a bofe. No 1º de Dezembro, perante uma Orquestra Juvenil, disse-lhes que não iam ter uma vida tão boa como os pais ou os avós.
Não leu o poema brasileiro «Mãe velha» nem dançou a morna cabo-verdiana com o mesmo nome. São palavras de amor e dedicação numa comunidade decente. Como eu lastimo não ter uma Mãe Velha...
Esta não lhe perdoo. Até parti um prato que estava a lavar. É gente duma geração (anos 80 e 90) a quem não ensinaram os valores de uma sociedade, da família, o respeito pelos mais velhos. Não lhes deram umas palmadas no rabiosque e foram para as incubadoras partidárias. Sugiro uma redacção com a repetição 500 vezes da frase «respeito os velhos, respeito os velhos». Ora comecem lá...
E, depois, está a falar de quem? Os avós viveram o fascismo e a guerra colonial, já levaram o FMI pela terceira vez, educaram os filhos e protegeram os pais. Agora são eles que estão, com reformas penhoradas, a aguentarem os filhos e netos. Indefesos mas dignos.
Ao descartar os jovens e esmagar os velhos, Passos Coelho herdou um país falido, mas deixa-o socialmente escavado. Uma herança trágica.
Aviso: o tempo é a única instituição democrática. Corre para todos ao mesmo tempo. Passos Coelho vai lá chegar e, na velhice, gostaria de ser tratado com igual achincalhamento? A ele e a todos aqueles que alinham nesse discurso... Deus não dorme.
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