nelson mandela
Por Manuel S. Fonseca
Eu tinha visto Angola a ferro e fogo. Tinha visto os meus irmãos brancos fugir, os meus irmãos negros matar-se. Não tinha forma de pensar outro cenário que não fosse o de que tudo se ia repetir e que um banho de sangue inundaria as vivíssimas feridas da África do Sul. Ódio, ressentimento, humilhações, uma hercúlea injustiça, tinham de ser vingadas. Tinha de haver uma imensa e caótica dor, ou não será sempre assim a libertação?
Um homem, Nelson Mandela, cordeiro de África, chamou a si todos os pecados, os seus pecados, os pecados das vítimas, os pecados dos algozes, e deu-lhes a paz. Nelson Mandela é um Cristo gentil, o mais sorridente dos redentores. Num continente devastado pela escravatura, pelos gritos que ainda hoje gemem no “Heart of Darkness” de Conrad, devastado pelas libertações danadas à Frantz Fanon, um homem, Nelson Mandela, poupou uma nação ao martírio, redimindo-a com a verdade e o perdão.
Nelson Mandela, cordeiro de África, no fim de século XX, limpou os pecados do mundo. Deu a paz à sua África e a paz de África é paz do mundo. Hoje morreu. E, no entanto, por ter feito do perdão o mais político dos gestos, viverá pelos séculos e séculos.
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