o papa porteiro de discoteca
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Por Ferreira Fernandes
O Papa Francisco tem qualquer coisa de estranho e isso eu vi logo no dia seguinte à sua eleição. Quando foi anunciado, não me dei conta, a varanda de São Pedro é demasiado alta para denunciar estranhezas. Mas quando ele foi rezar à Igreja de Santa Maria Maior, quando todos lhe admiraram a batina simples e os sapatos pretos e usados, eu reparei em algo mais extraordinário: "Olha, um homem", disse-me. É, ele andava como uma pessoa comum. Pelo seu passo e porte, que não deixavam mostrar o peso de dois mil anos, o Papa poderia ser confundido com os reformados passeando na vizinha Piazza del Esquilino. Já era Francisco mas não deixara de ser o Jorge Mario Bergoglio que gostava de milongas e se recordava de golos do San Lorenzo de Almagro. Já temos meses suficientes para saber que ele continua assim, extraordinariamente comum. Agora, escolheu uma visita à Igreja de São Cirilo de Alexandria, em Roma, para nos revelar uma das suas profissões de juventude. Antes da profissão de fé, teve uma profissão de pé: porteiro de discoteca. Mais uma vez o paradoxo de misturar a surpresa com a normalidade. Um poeta de uma pátria vizinha de Bergoglio, Manuel Bandeira, tem este poema: "Irene preta / Irene boa/ Irene sempre de bom humor./ Imagino Irene entrando no céu:/ - Licença, meu branco!/ E São Pedro bonachão:/ - Entra, Irene. Você não precisa pedir licença." Pois era o que o atual Papa, na juventude, fazia à porta de um bar de Córdova.
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