mentiras, manipulações e "coisas" a que não me atrevo a dar nome
Escrevo quase às 5 da manhã. Cansado, mas ainda assim com fôlego para escrever umas linhas sobre o terror de certa direita (a neoliberal governamental) ante as manifestações de hoje por todo o país. Eis como estão a reagir:
Com manobras de diversão
Já aqui escrevi sobre o súbito aparecimento, ao início da noite, de vários posts sobre a alegada fortuna que a família de Sócrates possuirá em offshores. Sobre isso, estamos conversados.
Com manipulação dos factos
Os jornais online, para já esses, dão mais destaque aos tumultos isolados junto dos escritórios do FMI e na Assembleia, relegando para segundo plano a manifestação propriamente dita, a maior de sempre talvez desde o primeiro 1º de Maio e que decorreu de forma absolutamente ordeira, onde a única nota menos civilizada terá sido um ou outro (muito apreciado) palavrão.
Com distorção de números
Quem apoia mentirosos dificilmente pode fugir à mentira. Veja-se por exemplo este texto, cujos sublinhados são da minha responsabilidade (mas, antes, prepare o estômago, tome um chá, um Xanax, qualquer coisa, porque vai ser duro):
Falhou a intentona do 15 de Setembro
Falhou o golpe de Estado da "classe média" e do poujadismo dos crédito-dependentes. Em Lisboa, não obstante a fúria da SIC e da TVI - de facto, os verdadeiros organizadores da lamúria - os indignados não terão excedido 10 000. No Porto, terão sido 5 000. As imagens vistas do ar não enganam, mas há quem queira inchar e mitificar. Os 0,20% que acorreram a estas pândegas manifestações não oferecem manobra para Belém recorrer ao Conselho de Estado e, assim , tutelar um golpe de Estado contra o governo saído das urnas há um ano. Passos que continue, mas deve assestar o golpe na imensa rede de favoritos, nipoti e Odoricos Paraguaçús do regime. Se o não fizer agora, perde o apoio dos 60% de portugueses, aqueles que, sendo pobres, não se indignam.
22.42 horas. A maratona mantém-se nas tv's. Figuras cativas, gente do regime: um ex-governador de Macau, ex-ministros, jornalistas comprometidíssimos com a alienação exercida sobre o povo, comentadores e comentadeiros saídos da pobre "academia" portuguesa, de fórmulas arrevesadas e falar cerrado para evitar compromissos. O Daniel Oliveira - a única figura inteligente da extrema-esquerda - já aquecido e delirante no programa da multimilionária SIC. Os olhos reluzentes, as quixotadas e gabarolices do épico trazer-por-casa, instantâneo de weltanschauung adolescente de uma burguesia que se exalta com as revoluções, mas que nunca teve precalços (sic), nunca conheceu o desemprego, teve sempre mesada pontual e os trapos passados a ferro pela criada.
Começa a ganhar vulto uma lenda, um "novo 1.º de Maio", "um novo 25 da Silva". "Eu estive lá", "eu não fiquei em casa". Dos dez mil às 5 da tarde, logo inflacionados pelas tv's, pela noite já havia quem ali quisesse ver "a maior manifestação de sempre". O delírio a crescer na proporção directa da inconsequência do acto. Importava mitificar. Para gente que de actos multitudinários só teve as experiências dos futebóis, 60 000 é coisa imensa, número mágico que se impunha multiplicar por quatro, por cinco ou por seis. Acreditaram e assim ficou: "a maior de sempre", pedindo o céu.
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Ninguém explica a esta santa gente que estamos em resgate financeiro; que a Portugal ninguém empresta um cêntimo; que tudo isto começou há muito com o tal 25 da Silva, com as nacionalizações, a fuga do investimento e das multinacionais, a destruição sistemática da competitividade das nossas empresas; que a entrada a empurrões na CEE foi paga com a destruição dos sectores mais produtivos da nossa economia; que os responsáveis têm nomes (Soares, Cavaco, Gueterres, Barroso, Sócrates); que a classe política e seus partidos foi responsável por isto. A "classe média", essa também foi responsável - e de que maneira - e deu hoje triste expressão de uma teimosia cega ao querer manter um sistema que caiu, morreu, não tem retorno. Sei que não compreendem. Afinal, quiseram tudo, pensando que o trabalho sujava, que estávamos na vanguarda do mundo capitalista, que éramos, finalmente, europeus. O regime mentiu por quarenta anos, teve filhos e netos - pequenos, atrevidos, ociosos e sem cabeça -; aqueles que saíram à rua, que inventaram um país que nunca existiu e ainda teimam e pedem mais do mesmo. Grandes e fundas bolsas de subdesenvolvimento subsistem. A poesia constitui, para a literatura, a fase primitiva da descoberta da ficção. Precisamos de prosa, de acatar regras de sintaxe, conhecer a gramática, saber pensar. Os arroubos poéticos de hoje, a explosão da lágrima e da voz trémula, são sintomas alarmantes e vêm demonstrar que o povo português não quer acordar, não quer assumir responsabilidades e está, novamente, à espera que alguém o venha manipular, usar e abusar.
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Noite de decibéis em frente da Assembleia da República, a tal que foi eleita há um ano e tem de ser dissolvida pela votação das ruas. Dois feridos ligeiros, uma multidão que vai dispersando com a fome do bife a apertar, a polícia - os únicos filhos do povo ali presentes - a aplacar os bravos da revolução que o não foi. Este país é uma pilhéria.
Setúbal:
Braga:
Santarém:
Faro:
Aveiro:
Évora:
Todo o País:
Comentários
Oh,o fazem.... :)