quando não havia televisão, nem computador, nem tablets, nem playstation, nem telemóvel

Não sou apologista dos tempos idos. A pobreza não é alegria, os pobretes não são alegretes. Não ter brinquedos, uma prenda pelo Natal, no aniversário, não dão gozo a nenhum ganapo que se preze de o ser. Mas preocupam-me os pais que, nos dias de hoje, trabalham como burros de carga para comprar aos seus rebentos o último jogo electrónico, o último berro da tecnologia, com que os petizes queimam neurónios horas a fio, sem contacto com a Natureza ou sequer com a realidade. Serão mais espertos do que nós, os miúdos de antigamente? Talvez, aquelas maquinetas até serão capazes de lhes desenvolver capacidades que, na nossa meninice, não tivemos possibilidade de exercitar. Mas não os torna mais humanos.

Não sou partidário dos mentirosos que nos dizem que andámos a gastar mais do que ganhámos. Em Portugal sempre se ganhou mal. Ninguém deve viver por viver, para garantir tão-só a sua subsistência, quantas vezes nem isso. Mas o consumo excessivo, a mania das marcas, o apelo pelos gadgets, a atracção pelo fútil, pelo inútil, transformam-nos em seres pueris, superficiais, em certos casos ostentadores de luxos com que nos endividamos, e egoístas, e ególatras, incapazes de um pensamento mais profundo, de um acto de generosidade que ultrapasse a mera caridade apaziguadora de consciências.

A economia só cresce através do consumo, é o que nos dizem da direita à esquerda, é preciso aumentar mais e mais e mais a produção de bens, mesmo que supérfluos, mas é isto mesmo que conduz ao tresloucado aumento da poluição, ao capitalismo selvagem, à alienação, à massificação, à criação de robôs em vez de meninos, ao gosto de ter e não de ser, apenas ser.

Talvez um dia, quem sabe?, saberemos resolver esta contradição. Até lá, esperaremos que a crise passe. Mais do que a económica, a de valores.

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