A Dona Anália é, dizem-me, boa pessoa. Vai à missa, confessa-se, persigna-se por tudo e por nada, por dá cá aquela palha, leva uma vida regrada, foi mulher de um só homem, nunca o encornou nem em pensamento. E a Dona Anália é profundamente do contra, o que só lhe fica bem segundo o marido que Deus tem. Casamento gay? É contra. Interrupção Voluntária da Gravidez? É contra. Eutanásia? É contra. Aumento do salário mínimo? É contra, ela que não tem onde cair morta e cuja pensão tem vindo a diminuir a olhos vistos, os remédios que devia tomar quedam-se pela farmácia, os vegetais que devia comer ficam no supermercado, bebe um chá que a fome passa, a dor vai-se. É que a Dona Anália não pensa só nela, não é egoísta e muito menos invejosa, sabe que um país sem ricos dos mais ricos que pode haver, apaparicados pelo Estado de forma a criarem empregos e pagarem salários, por mínimos que sejam, é um país condenado à fome e a malfeitorias comunistas, um dos horrores deste mundo de Cristo. A Dona ...